A dor do Reino

No víeis do caminho do seguimento a Jesus, os pobres são nossos melhores mestres. Suas vidas nos interpelam, nos questionam e nos deixam atordoados mediante a santidade da conversão. Dessa forma, perguntamos: “Quem pode se salvar?” E a resposta nos diz o Senhor: “São bem poucos, os que por esse caminho se salvam!”.

Então, o que poderemos fazer? A dor do reino nos persegue como a um enfermo buscando a própria cura. E como médicos em busca de achar as causas para em seguida efetuar o processo de cura, também buscamos a causa da dor do reino, e eis que nos deparamos com o amor incondicional emergindo através de sinais cuja mensagem teima em nos dizer: o amor não é amado.

Sofre o amor, o amante e o amado. E essa dor atravessa medulas e ossos quando nas situações pelas quais passam os pobres, nos vemos impossibilitados, pequenos, e muitas vezes de mãos atadas. Os pobres! Os pobres?

São em suas vidas tão sem vida, que ora seguindo a mesma lógica do sistema foge a própria lógica. Muitos são tão rudimentares que não conseguem nem mais serem honestos consigo mesmos e nem com os outros. Estão numa condição tal que tudo não faz sentido e suas reações mesmo previsíveis são ainda assim, imprevisíveis. Nunca sabemos quando suas ações e reações são legitimas e verdadeiras, pois sob certo ponto de vista ela é fruto de sua marginalização, exclusão, de sua permanente situação de risco, risco para si e para os outros. É uma lógica sem lógica. Suas histórias nos comovem à dor e nos deixam perplexos e à flor da pele sensibilizadas. Entretanto, se nos deixamos levar por uns instantes a ponto de pensar estratégias de ação, por outro lado, é verdade, nos assombra o fantasma da razão a nos fervilhar os pensamentos com a questão do assistencialismo, do dar sem ensinar a pescar o peixe e fazer o pão. Também por outro lado, é verdade, esse mesmo fantasma pode ser fuga para nada fazer. É mais comodo ou pela sua incomodidade passamos a bola da vez pra frente.

Dessa forma se estabelece em nós uma crise de ação e de solidariedade, e como não dizer, de estar junto, de sofrer junto, de resolver junto e ser irmão. E nessa hora dói dói demais a dor do reino. Temos então a sensação da pequenez e de estarmos sendo refém do nosso próprio sentimentos de modo que nos tornamos vitimas mais que benfeitores. Aqui, compreenderemos como o sistema nos colou de lados opostos e ao mesmo tempo lado a lado. Daí cai as camadas dos olhos de nossa miopia e na surdina do desespero invocamos a libertação, libertação como um ato de rebeldia resignada aos meandros do processo social que caracteriza nossa sociedade brasileira. Se ajudo, sou assistencialista; se não faço nada sou insensível; se passo o problema a frente sou irresponsável e me livro do problema, mas não resolvi. Aí a dor do reino aparece com força e força que nos coloca ao chão. O que resta-nos? Lutar, mas como? e por quais caminhos percorrer? Cada caminho que aparece traz riscos, exige tomada de posição, compromete-nos e nos coloca em novo circulo…

Eis, pois, nosso desabafo…. São apenas palavras, palavras que como grito ecoa de um coração. E como oração metaforicamente podemos então elevar ao Deus do Êxodo: “O Reino é teu, Senhor! Sou apenas um garçom que como tua Mãe, digo: “Eles não tem mais vinho!”

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!