Desnatalizando o Natal.

Na época do natal o ambiente muda. Na rua, na praça, no comercio, em casa, nas igrejas, há um ar diferente. Mensagens por todos os cantos ressoa aspirações, sonhos, desejos e concretizações. As pessoas parecem estar mais acessível, sensível, fraternas e um espírito se espalha tomando conta de todos. Gestos, brindes, presentes, músicas, comidas, roupas, dão um toque especial e diferente. O consumismo está em alta, pois as motivações são muitas, mas tem único e mesmo endereço: é natal.

Data simbólica mais que realidade histórica, mexe com o imaginário e a fantasia das pessoas. Pelo menos nesse dia, precisamente nesse dia, as pessoas se sentem seguras, amadas, perdoadas e vibram juntas num mesmo acorde musical.

O ano que se passou com todas as suas nuances, mazelas, tristezas e alegrias, decepções e reconstruções, nesse momento não lhes parece dizer muita coisa a não ser a gratidão pelas coisas boas passadas, e a vontade insistente de que com esperanças redobradas daqui para frente, o novo será melhor.

Nesse clima, uma personagem sobressai como materialização de todos esses sentimentos, sonhos, aspirações e bons augúrios natalino: papai Noel. Frente a personagem principal e sua mensagem, Noel sobressai a quilômetros de distância. Ele está mais no imaginário coletivo que Jesus. Aliás, a história do menino e o menino fascinam tanto pela sua fragilidade, bem como, pelo que ele traz e representa. Mas, isso não toca as pessoas porque se esquecem ou não sabem do que se trata sua real mensagem e quais consequências ela traz para a vida. Jesus diz menos, papai Noel diz mais.

E isso está errado? Esse clima, mensagem e contexto é ilusório e falso? De jeito nenhum, mas como é vivido e celebrado ofusca o que está por vir depois, e nesse caso, há que se celebrar o natal, com vistas no seu significado e consequências que trará depois.

O capitalismo esvaziou o natal, a mensagem real do natal. O poder econômico fabrica e vende falsos valores com roupa e cara daquilo que deveria ser a verdadeira mensagem e o verdadeiro natal. O natal é vazio porque permitimos esvaziá-lo. Temos que re-cristianizar o natal.

De que natal estamos falando?

Natal é nascimento. Os evangelhos e os escritos paulinos no dá pistas desse nascimento: nascer da água do espírito; banhados em Cristo somos e temos nova realidade; convertermos e cremos no evangelho, pois o reino está próximo, etc. Jesus que agora não é mais bebê, e quando pelo natal encantou a todos, agora, agora mesmo traz uma mensagem de salvação e misericórdia, mas que por outro lado, tal mensagem soa inevitavelmente o contrário.

Jesus veio salvar a todos, porque Deus nos ama a todos e quer que todos se salvem (Jo 3,16ss). Mas, nem todos se salvarão ou querem se salvar. Eis, o paradoxo. Paradoxo que o natal como temos e nos é apresentado hoje pelo mundo moderno não nos deixa ver o que realmente significa e que implicações isso tem para o futuro. A vida não é só aqui, ela transcende, é transcendental, é um processo.

O natal tem implicações. Implicações que deverá repercutir por todo o ano, por toda nossa vida, nas opções e decisões que tomarmos, enquanto ato de fé, amor e esperança. E isso o natal do papai Noel não diz, porque é limitado e fala apenas do que a ideologia capitalista e econômica dita, e que entre nós e em nossa geração, já virou tradição, tradição que não representa a verdade cristã do verdadeiro natal. Por isso é preciso desnatalizar o natal para que o verdadeiro natal possa ser verdadeiramente, natal.

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!