Propósito

Durante toda nossa vida estamos mergulhados numa cultura. A nossa educação, o nosso pensar e agir é regulado pela cultura. E a cultura defini as características, a identidade e o objetivo de uma pessoa e da nação.

Atualmente estamos vivenciando a cultura pós-moderna fruto de uma cultura anterior que apesar de ser relativamente “nova” foi muito intensa, a modernidade. Dela herdamos praticamente todas as inovações tecnológicas da atualidade com suas virtudes e vícios. Herdamos também o pensamento lógico, frio, mecânico, funcional, cartesiano, filosófico, retilíneo. Com ela, globalizamos o planeta literalmente, e saímos totalmente da cultura e época anterior, a que os europeus convencionou chamar de Idade Média.

Mas, é com a pós-modernidade, que o dinamismo, a informação, as transformações rápidas e descartável, bem como “a cultura do sem-sentido” aparecem com força. Em nossa época a cultura se caracteriza por transformações e por uma crescente onda de liberdades e eventos singulares que é sua marca registrada. De repente tudo e nada faz sentido e talvez pior que antes, nunca fomos tão escravizados, não só pelo sistema que criamos, mas por nós mesmos e pelo que ditamos ser ou se caracteriza como vida e felicidade. Da noite para o dia, nos tornamos mais socializados, mais egoístas e mais informatizados e menos comunicativos, comunitários e pessoas maduras no sentido completo do termo.

A pós-modernidade ainda não deu tudo, ainda não chegou a sua plenitude, ela ainda é relativamente jovem se comparada as duas anteriores e nem chegou à maturidade. Apesar de ter um efeito poderoso na vida do homem e da mulher de hoje, tanto positivo quanto negativo, ainda é muito forte a influência da modernidade, pois até mesmo nós os “pós-moderninhos” nem assimilamos direito o que é de fato pós-modernidade. Ou seja, aquilo que se caracteriza como sendo algo após a modernidade. Pelo menos, temos volta e meia, pequeno lapso de linguagem quando coloquialmente falamos de ser um moderno e um pós-moderno… e sempre falamos do “moderno”. Mas…

Nesse complexo mundo pós-moderno (e ainda moderno para uma grande maioria da população), setores como política, economia, religião, não tiveram mais o peso e atrativo que na cultura anterior, mesmo, gestos e atitudes aparentemente demonstrando o contrário. O homem e a mulher pós-moderna é um ser individualizado, egocêntrico, sem “cultura” e sem sentido. Sua participação social é puramente pratica, cômoda e imediata, não tendo perspectivas de futuro e nem para ele olha (em certo sentido pensam no futuro, mas algo próximo, imediato). A nova geração não pensa na geração seguinte. Não é sem razão que dizem que a vida no planeta está ameaçada, sobretudo a vida humana. Mas há fios de esperança, de perspectivas, afinal, essa é a geração Esperança.

Diante desse contexto, uma pergunta é crucial e que pode ser formulada de várias maneiras e sob vários aspectos. Atrevo-me a formulá-la da seguinte maneira: qual o propósito da vida, da nossa vida nesse contexto?

Enquanto pessoa, indivíduo que somos, mergulhados nesse contexto e cultura o sentido que damos a nossa existência faz uma diferença enorme. E isso nos remete a formular a pergunta a cima sob outro ângulo: qual o valor que atesta para nós mesmos o sentido da nossa vida aí vivida?

Nascemos, vivemos, moremos. Essa é uma sentença fria, sem esperança, que pelo seu enunciado, o que nos cabe é viver e viver bem. Isso significa que, a cada dia somos levados do acordar ao anoitecer exercer atividades que nos defina como produtores, executores de ordens, transformadores de realidades, tudo em função do “crescimento”, do “produtível”, do “bem-estar”, da “felicidade” e do programável para uma “aposentadoria” que possibilidade uma falsa “liberdade” em uma “velhice” cujo os frutos de anos de trabalho agora será “desfrutável” numa vida cômoda, segura, feliz, com novas possibilidades longe desse círculo por sua própria natureza cultural e social a nós imposta. Enfim, a “aposentadoria” é uma conquista: sair desse círculo para um outro em que nós mesmos “ditamos” as “regras”.  Eis, no geral o projeto, o propósito da vida, o sentido que habitualmente lhe damos. Isso na melhor das hipóteses.

No decorrer desse plano de vida, assumimos valores, criamos outros, aderimos a outros e tais valores passam a fazer parte da nossa vida como algo importante, e que de certo modo nos define, define nosso agir, nosso pensar e nossa crença. Eles serão nossa marca registrada dentro da cultura e nos define enquanto “imagem” que vendemos na vitrine para outros verem.

Nenhum valor vem gratuito, com ele vem os sacrifícios e responsabilidades, as tristezas e as alegrias, as rupturas e as novidades, as perdas e ganhos.

E é mediante isso tudo que ao final de uma jornada da vida (que não é o “fim” da vida), de uma longa e/ou efêmera experiência, de uma crise ou simplesmente de um “acordar” para vida que a pergunta a qual acima formulamos, emerge com força tal que nos vemos obrigados a perguntar o que realmente tem sentido, faz sentido e; para surpresa nossa, bem pouca coisa faz sentido: um parente, um filho ou filha, um animal, um móvel (porque não?!) um companheiro ou companheira, um amigo ou amiga, um objeto… algo ou alguém que em nossa história de vida faz parte dela, que faz a diferença.

Mas, olhando para esse momento e valores, de repente como que por um insight nos damos conta de que há um “vazio existencial”. Nessa hora, no geral, a religião chega e faz a diferença. É o caminho mais prazível!

Apesar da religião com seus ritos e conteúdos nos possibilitar um caminho que nos leva a preencher esse vazio interior, a grande resposta ao nosso vazio e ao sentido da vida está no fato de uma experiência “mística”, um “encontro pessoal” com o Mistério onde aí encontramos Deus. Como se dá esse encontro, como acontece a mística? Os místicos, os religiosos têm lá suas experiências e seus conselhos, mas, tudo isso é muito pessoal e circunstancial à época deles; e depende também das circunstâncias, de momentos, eventos, fatores que muitas vezes escapam às nossas mãos em nossa época e história pessoal. Como peregrino nestas estradas vendo o exemplo deles, só resta caminhar, buscar, e numa dada hora o incomensurável há de acontecer. E pelas muitas experiências por aí, esse momento vem sempre carregado, vestido de roupagem quase que imperceptível aos olhos e sentidos. Sua sutileza as vezes chega a beirar ao ridículo (Deus tem senso de humor), as vezes ao simples, es vezes ao humorístico, e as vezes ao extasiante ou tudo junto. Do nada ou do que não damos valor, ou que deixamos de lado ou nem mesmo despertamos para tal pode ser um meio pelo qual o inusitado acontece. E isso não é só coisa de religiosos. Pronto! Eis que o sentido aparece! O vazio já não é mais vazio.

Uma vez encontrado o sentido da vida, um proposito nos aparece. A vida, as pessoas, o tempo, o cotidiano, a cultura não é mais vista do mesmo jeito, é como estivéssemos encontrado o nosso lugar na existência. Tudo ganha novo colorido.

Desse modo as certezas ficam mais límpidas e encaramos a vida sob novos aspectos. Não que tudo tenha mudado, que os problemas desapareceram, não se trata disso, e em alguns casos isso até pode e deve acontecer, mas estamos falando de algo mais profundo. De um novo olhar, de um novo enfoque, de uma nova postura, de um proposito a onde não havia proposito. Estamos falando do sentido mais profundo das coisas, do perene e eterno, do nosso lugar consciente insubstituível, único e eterno, físico e metafisico, algo paradoxal. E aí temos uma nova jornada da vida.

Enfim, o que chamamos de proposito e a ideia que compartilhamos nesse artigo é justamente levantar essa reflexão de nosso lugar na vida como algo único, místico e comprometido. E que tal experiência que mais cedo ou mais tarde nos venha acontecer, é algo sem igual no contexto em que estamos na cultura vigente. Uma coisa penso que é importante, tomar consciência dessa jornada e não só esperar pelos céus, mas invocar o Sagrado e começar nosso caminho. E quando isso começa? Creio que a partir do momento que nos damos conta da “perda” e do “sentido” que mediante certos acontecimentos interiores ou exteriores a nós, liga o “botão” de que realmente está faltando algo a mais.

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!