Quanto vale a vida?

Andei me perguntado diante de umas situações se a vida tem preço. Evidentemente que a vida é um bem inestimável e não tem preço. Todos sabem disso. Mas, mediante o sistema e contexto vigente, não é muito difícil perceber que a vida, mas que vida, é um produto rentável, mesmo em se tratando de vidas humanas.

Longe de pensar eticamente, moralmente, religiosamente e humanamente, a vida é neste contexto, um produto. E como tal, se pode lucrar com ela. Senão, vejamos alguns casos!

Para uma pessoa que está gravemente doente e precisa de uma cirurgia ou um medicamento especial – ela descobre indignada e revoltada que sua vida para ter vida tem um preço a ser pago.

Ou, por exemplo: quando uma pessoa cai nas mãos de malfeitores que lhe exige uma soma para o resgate, traumaticamente, a vítima se dá conta que naquela situação, sua vida tem um preço a ser pago, se quer a vida de volta.

Ou ainda, naqueles casos em que, a pessoa se ver refém de uma situação qualquer cuja soma monetária considerável lhe é exigida para que viva em paz.

Bem! Poderíamos tecer uma lista de casos e casos. Mas, já deu para você entender.

O fato é que, a vida a partir de uma concepção econômica, capitalista é vista com um olhar banal, coisificada, cujo sentido e valor passa pelo lucro e ambição do capital. E isso temos visto corriqueiramente sem que nos indignemos, protestemos e sem levar em consideração o sagrado e sublime da vida, seja ela de quem for.

É o que temos visto sobretudo na atual conjuntura política do Brasil. Em vista do lucro capital, nossos políticos sem escrúpulos, trocaram nossos votos e o poder de beneficiar a vida do povo pelo seu bem-estar econômico, favorecendo o capital das grandes empresas em detrimento da vida do povo, sobretudo, dos pobres, dos trabalhadores, dos aposentados desse país. Sua falta de humanismo, ética e moral não consideraram a vida em sua essência, mas a vida como coisa. Coisificaram o país e o venderam a troco de bananas. Coisificaram a vida.

Aliás, no mundo moderno coisificamos a vida de maneira tal que o significado e significante perderam seu “lugar” nesse contexto vigente. As pessoas perderam a capacidade de se indignar, de protestar. Não estou falando de tagarelices, de falatórios, de reclamações (isso é o que mais tem por aí…) mas, daquela capacidade de empoderamento cuja ação pela indignação e protesto nos leva para a essência das coisas, da vida. Que transforma e faz surgir transformação.

A vida tem valor, sim, mas não deveria ser visto esse valor pela ótica comercial e sim, pelo olhar de sua própria essência.

No mundo de hoje está fazendo falta os instrumentos da indignação e do protesto que gera vida e dignidade. Se a vida em alguns desses e tantos outros casos tem “valor” esse valor deveria ser para salvar vidas e não para a constrange-la em certo sentido. E em outros, se ela passa a ser medida em valores é porque, está provando que o nosso mundo não funciona como deveria; e nem adianta esperar um salvador da pátria, um super-herói, porque esses não existem. É triste ver como nosso povo tagarela, reclama, mas não sai disso quando o assunto é a política e o que os políticos estão nos fazendo. Ficamos paralisados à espera de um salvador crendo que ele será a respostas aos nossos problemas, de tão inertes que estamos.

Creio que, para descobrirmos e valorizarmos o sagrado da vida, é preciso enxergar mais o outro não como inimigo, como coisa, mas como semelhante, vendo nele, uma oportunidade e vice-versa de crescermos como humanos e vermos a vida como bem inestimável cujo sentido nos remete ao mais profundo do seu Criador.

Não somos objetos, nem a vida coisa, mas é assim que o sistema vigente nos olha e dia-a-dia somos tratados, e se não tomarmos consciência dessa realidade por ele somos transformados…

Está fazendo falta aquele espirito de luta, da geração passada que se arriscava crendo na esperança que o amanhã lhes daria para si e seus filhos, o que lhe fora tirado em vinte anos, a vida e a liberdade.

A vida não tem preço, mas se continuamos paralisados, sucumbiremos a ideologia mercantil e pagaremos um preço alto. E aí não terá muito sentido as perguntas: ser é justa, se é certo ou errado, porque perdemos o sentido de Ser.

Quanto pagaremos pela vida? Ela tem preço?

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!