O brasileiro vive de esperanças. Ela está impregnada na vida, no pensamento e na cultura desse povo. Seu cotidiano é movido entre tantas outras coisas também pela esperança. Por aqui se diz: “A esperança é a última que morre.” Por quê? Porque enquanto há vida, sonhos e capacidade para concretizá-los o brasileiro fará de um tudo, saberá dar o “seu jeitinho brasileiro”. Nisso consiste sua esperança. A esperança é algo que nos motiva a caminhar, a sonhar, a lutar, a buscar o que se deseja.
Entretanto, a esperança não é só no sentido de conseguir coisas, conseguir algum bem material, um trabalho/emprego. Ela também consiste em possuir aqueles bens/valores que constitui seu ser existencial e transcendental mais profundo.
E essa esperança assim posta, condiz com a esperança evangélica que nos remete aos bens escatológicos: possuir o reino. Viver de esperança é uma mística do povo brasileiro, pelo fato de que com ela, ele sempre acredita na possibilidade do bem, do bom, do belo que pode num instante mudar o rumo da existência e de dar um novo significado para ela.
Nas filas de hospitais, na feira livre, nos mercados, nos pontos de ônibus, nos bares e nos grandes centros onde conflui a população, é notório ver e ouvir histórias de superação ou mesmo testemunhos onde a esperança está bem presente a mover essas pessoas em busca de seus objetivos; e apesar de tais histórias e testemunhos serem de ordem temporal, reflete inconscientemente a fé cristã, como uma atitude ascética.
Para nós, a esperança não se limita a receber, a possuir algo que fora desejado, que fora buscado, ela sempre há de representar algo mais. Ela será sempre motivação e motivadora que nos conduz à Existência em si e para além de si mesma, para Deus e toda eternidade.
É impossível viver sem esperanças! Ela está no tecido constitucional e celular da vida do povo brasileiro. Para nós, ela chega a ser quase algo existencial. Ela nos impulsiona enquanto força dinâmica que gera energias, para o embate, para enfrentar as reveses do cotidiano.
Ao contrário do que possa aparecer, a esperança brasileira não é algo alienante, algo que fica a espera tão somente, mas ela é motivadora de atitudes, gera forças de libertação, põe em destaque a fé, a confiança. O brasileiro não sabe viver isolado, sua esperança não o conduz ao isolamento, mas sim, o leva ao mundo coletivo. Através da esperança ele cria relações, constrói redes sociais e interpessoais que o leva para mais próximo de suas buscas e ver concretizada de alguma forma sua esperança. E tão logo tenha sido plena, recomeça de novo como algo dinâmico que nunca termina, nunca pára. Daí entender porque, a esperança lhe é motivação e a ultima que morre, segundo o dito popular.
Por trás da esperança brasileira está sua vocação para a liberdade, sua dinamização para a vida, e sua fé no mais profundo e significativo da mesma.
Ao apresentar a esperança assim, nos remetemos ao Senhor, o crucificado vivente, ele é para nós, a perfeita concretização do que seja a esperança. Jesus vivo e ressuscitado nos é a Esperança por excelência, porque nos remete ao que é não apenas passageiro, mortal, efêmero, mas ao que é vital, perene, duradouro e eterno.
Eis para vós, meus leitores, um testemunho sobre a esperança na consciência brasileira: Ela é um bem existencial que ultrapassa o meramente material e nos remete como numa atitude mística, o essencial da vida humana: Deus. Feliz Páscoa!