Quanto é duro amar, quanto é duro a solidão do amor, o quanto dói se perceber longe, esquecido, relegado à margem da vida na vida das pessoas que amamos.
Após anos e anos de vida dedicada, de uma história construída e vivida com seus altos e baixos, ver-nos separados/as dos que amamos e foram/são importante para nós. Mesmo que nos deixe em algum lugar, e vá nos visitar esporadicamente, nos envie auxilio, nos dê todo sustento, ainda assim, paira sobre nós enquanto condição humana a saudade, a vontade da presença, do poder tocar e ser tocada, de poder ver e ouvir a voz, de poder lembrar de fatos e pessoas, quando por exemplo, na terceira idade tendo que viver em um asilo ou coisa do tipo.
E imagine essa mesma realidade noutro contexto, na vida de quem passou anos a fio vivendo uma rotina cuja motivação e ideia predominante é amar e sabe-se e sentir-se amado/a e de uma hora para outra, isso não existe mais. Como dói amar e não ser amado, ou mesmo “amado” ser deixado para lá.
Tudo isso são fatos constatados no dia a dia da existência.
O amor é uma “doença” que só se cura com amor. Dia feliz é quando um dia ele pairou existencialmente em nossa vida, e que nos deu sentido de vida, que nos possibilitou fazer história. A nossa história.
Ah! O amor! O amor é assim, não sabe ser de outro modo, é coisa de pele mesmo. Por isso mesmo dói, dói amar sem ser amado, dói sabe-se “esquecido” e mendigar “presença” por um instante sequer para saciar-lhe o desejo que a flor da pele, reclama por entre as dores físicas do corpo, a presença do amado. Há certa dor que só se cura com a presença do amado. Os místicos como João da Cruz e são Francisco de Assis assim já nos dizia.
Acima citei duas realidades distintas. Primeiro, de uma pessoa que definha no asilo esperando uma visita daqueles que ama e que lhe devotou sua vida inteira e agora é deixada aos cuidados dos outros (estranhos à sua própria história, seus sonhos, suas decepções, suas vitórias, seus sentimentos e suas alegrias) que mesmo com toda a competência e cuidado não consegue lhe preenche naquilo que é próprio do amor. São sinais do amor necessitado lagrimas, gritos, saudades que não se cala, porque tem necessidade de presença dos que um dia foram objeto desse amor. A segunda realidade remeto a uma pessoa que durante anos se doa por amor a uma outra pessoa num relacionamento e de um momento para outro se ver na condição de “apagar” essa história, sentimentos, alegrias, lutas, tristezas, uma vida, e se desfazer de hábitos que fortemente se arraigou na própria vida e que diante do “não” tem que de descontruir para recomeçar de novo, sabendo que, num outro momento, uma nova história será como um salto no escuro. Que precisa recomeçar.
Ambas as realidades têm como pano de fundo de suas vidas e o sentido da mesma o amor. E o amor aqui excede e é mais amplo e mais profundo que apenas sentimento, afeto, sexo. É algo de sentido existencial.
Daí entender porque numa situação assim, o amor dói e dói muito. E tal dor em alguns casos aparece como dor física, através das muitas dores que o corpo carrega. De outra forma, aparece através de atitudes, como é o caso, por exemplo, da dor emocional que é real e nos deixa sem forças, sem ação.
Nesses casos a dor é real, não é algo fictícia, inventada, dramatizada (o próprio drama em si é um pedido de socorro que só se cura com afeto e é prova cabal da dor). E essa dor precisa de cura, e essa cura não é algo “clinico” de uma psicologia ou psicanaliseis qualquer. Essa dor de amor só se cura com o próprio amor.
Se o amor dói e essa dor só se cura com o próprio amor, o que seria exatamente um amor doente e um doente amor?
O amor-doente é o amor que se vê na qualidade de abandonado, rejeitado, desprezado, expulso e desqualificado da vida do objeto amado, para o qual se deu toda a vida e a vida toda. Esse amor só se cura com amor.
O doente-amor recai mas sobre a pessoa em si mesma que já doente por quaisquer motivos vitima o amor, e cai num abismo de doenças somatórias cura realidade o expõe a uma situação de risco e vulnerabilidade. E como nasce esse doente-amor? De variadas situações cuja essência atinge as pessoas amadas e causa rupturas. A esse amor, cabe as práticas clínicas, etc.
O que vi e o que me leva a uma reflexão tecida nestas linhas é que: o amor é benfazejo, gerador de sentido, motivador de sonhos, indicador de santidade e qualidade de vida; entretanto, ele não está inerente as “ervas daninhas” do coração humano, nem das pedras e espinhos que aparecem no caminho da vida. E aí entra a “ideia” de que também o amor adoece, se machuca e dói. E uma pessoa ferida no mais profundo “amago” da vida, pena nas mazelas dos sentidos, do corpo e do afeto, expondo na carne sua dor que nem remédios, nem praticas clínicas e conselhos podem curar, porque numa situação assim, só há um meio de cura, o próprio amor. O ato de amar e ser amado.
Mas, como não depende do amante parar a dor e como dói, resta a consciência do objeto amado responder ao amante com amor, pois só assim, a dor de amar e não ser amado, sendo amado, passará.