Espiritualidade é algo que está em alta ultimamente em nosso meio. Para onde quer que se vá, ou seja lá o que dissermos, ou fizermos, está incutido em nós um desejo carregado de muitos sonhos que podemos resumir numa palavra – espiritualidade.
E de que trata a espiritualidade? Do velho e do novo. Daqueles desejos e sonhos carregados de sentido que dão a nossa história pessoal e coletiva um rumo existencial.
Assim, quando nos perguntamos qual o sentido que damos as nossas vidas; o que realmente buscamos; o que queremos e onde queremos chegar, então entramos no campo da espiritualidade.
Espiritualidade faz parte do âmbito religiosos, assim aprendemos, entretanto, ela não se encerra aí. Seu conteúdo é muito mais amplo para ficar preso somente no âmbito da religião; como também é muito frágil para fica sem ela, sobretudo numa sociedade moderna que é inconstante.
A nossa sociedade esquece muito rápido de bons valores e está sempre ao sabor das águas correntes. Nesse contexto, a espiritualidade ficando ao sabor das transformações sociais sem conservar aquilo que lhe é própria corre o risco de se perder e perder a seiva que lhe caracteriza como espiritualidade. Talvez seja por isso, que religião e espiritualidade são duas essências à vida humana e guardiãs uma da outra e de valores.
Na religião cada um encontra seu caminho espiritual. Aí geralmente a espiritualidade vem carregada de valores e roupagem religiosa conforme a tradição a que estamos ligados. Mas é importante termos em mente e devemos saber e cultivar nos dias de hoje, alguns elementos da espiritualidade que como disse acima, é muito mais amplo e que extrapola até mesmo “nosso habitat” religioso.
Antes de responder ao questionamento sobre os elementos da espiritualidade, se faz necessário também entender que para vivenciamos uma espiritualidade pessoal e comunitária se faz necessário nos perguntar que sentido damos a nossa vida pessoal e coletiva; sim, porque dependendo da resposta e situados no mundo em que vivemos hoje, é fácil perceber que, a partir da espiritualidade há atitudes que devemos urgentemente tomar e fazer se quisermos ter uma qualidade de vida e ressignificar essa vida para algo a mais e além; caso contrário, seremos cada vez mais engolidos pelo peso do sem-sentido pessoal e coletivo que está gerando pessoas e uma sociedade doente e esquizofrênica sem rumo e sem destino, colocando-nos a todos (incluído a Terra e a Vida) num barco à deriva com prejuízo de destruição total.
E como dito acima, quais seriam os elementos espirituais que poderíamos cultivar no mundo moderno?
Hoje se torna cada vez mais claro que, para uma vivencia da espiritualidade a palavra de ordem é o cuidado. O cuidado consigo mesmo – com nossa vida, com nossos sonhos, com nossa profissão, com nossos amigos, com nossa família e com nosso “mundinho” de cada dia; o cuidado higiênico com nosso planeta – que a cada dia morre um pouco mais porque lhe tratamos como lixo ou lixeira sem nos darmos conta de que há vida (animal, mineral, vegetal, aquática) nele e não vivemos sós; de que ele é nossa casa comum. Se destruímos a “terra” alto nos destruímos. Ela é um organismo vivo que respira, tem sentimentos, sente dor; e está por nossa conta, enferma; o cuidado e trato com as pessoas e seres – somos “gente” isto quer dizer, somos seres capazes de pensar, se emocionar, ser sonhos. Seres que podem se descontruir e se reconstruir e se reinventar em um novo ser humano. Somos coletivos, não sabemos e nem fomos criados para vivermos sozinhos, isolados, mesmo quem assim vive, tem companhia de alguma forma porque não aguenta ser só, isolado de tudo e de todos. Então, num mundo capitalista, por este tempo que estamos em processo de mudanças radicais é preciso cultivar as relações de amizade, de empatia, de simpatia, de solidariedade, de afetividade, de humanidade mesmo.
E uma espiritualidade que não leva em consideração o cuidado com o planeta, com as pessoas, com a vida, com o ser pessoal e coletivo, desconfie… não é espiritualidade, é alienação.
É preciso globalizar o cuidado através da solidariedade, do amor altruísta, das relações reais mais que as relações virtuais. É preciso que assumamos uma nova postura e consciência, um novo ser humano para uma nova geração.
E quais as exigências da Espiritualidade?
É imperativo que todo dia, a cada instante nos reciclemos. Que cultivemos a contemplação da vida, das coisas – para isto, devemos parar, nos permite tempos, dar um tempo para nós mesmos na correria do dia-a-dia, cultivar hábitos saudáveis como ouvir uma boa música, curtir um jardim, uma praça, uma obra de arte, ou mesmo voltar aqueles tempos de meninos/meninas onde brincávamos com nossa imaginação criativa nos permitindo sonhar em ser alguém ou algo que dava sentido de ser.
Cultivemos as amizades – com visitas “bobas” “sem que” e “nem pra que” simplesmente pelo fato de estar a li e se fazer presente, mostrando o quanto o outro nos é importante mesmo que ele não perceba isso. Velhos hábitos como um cinema, um passeio, um cartão, um telefonema, uma lembrancinha vale mais do que o desgastado WhatsApp onde partilhamos tudo à distância, sendo muitas vezes evasivos ou presença discreta e constante “virtuais”, mas que, devemos lembrar bem, não é nunca como a presença.
Cultivemos o zelo pelas coisas não o sentido de sermos materialistas egoístas e egocêntricos, mas no sentido de sermos zelosos mesmos com o senso de que se não precisamos hoje, precisaremos amanhã ou quem sabe servirá para alguém ou algo.
Cultivemos a oração enquanto carregadora de sentido. Sentido de vida, que nos eterniza mostrando que a vida não é só isso aqui, mas algo mais além; cultivemos a oração enquanto carregadora de energias benfazejas; de harmonia com o Tudo e o Sentido último; cultivemos a oração enquanto um mergulho na alma e na divindade que excede nossos próprios limites e nos faz sentir e sermos humanos e humanizados em meio ao caos do mundo.
Cultivemos o senso político enquanto compromisso com o coletivo que decide os destinos da Terra; de nossa vida pessoal e coletiva; e aprendemos que, política não é só um sistema eleitoral, mas que também é e faz parte da espiritualidade enquanto poder de decisão que nos proporciona todas as outras coisas; e que apesar de ultimamente ser uma novela cujo fim não sabemos onde vai dar, ser político e fazer política faz parte de uma espiritualidade genuína e verdadeira porque nos remete ao cuidado comum.
Cultivemos por fim, uma abertura, amor e solidariedade para com os pobres. Eles são a nossa permanente consciência de que há algo errado conosco e com nosso modo de vida. Agirmos dessa forma para com eles, nos leva a compreender o quanto somos efêmeros, passageiros, limitados, medíocres, egoístas, porque através deles fazemos mal a nós mesmos. Mas também é verdade, através deles, exercitamos nosso melhor; nos aproximamos mais de Deus; saímos do “nosso mundinho” para outros mundos e valorizamos mais as pessoas como nossos semelhantes; com eles, aprendemos a exercitar a compaixão, a misericórdia, a nos enxergar neles e com eles, melhoramos a vida e o mundo com o pouco que podemos e devemos fazer.
Há muitos “pobres” (crianças, jovens, idosos, mulheres “da/na” vida,) contando com a nossa compaixão (que se envolva com ele, que caminhe com ele, que sofra com ele, que lute com ele) para melhor ressignificar nossas vidas e suas vidas. Muitas deles estão bem ao nosso lado e não nos damos conta. Por isso, que é preciso muitas vezes, parar, olhar, escutar, chorar, meditar, orar, cantar, dançar, organizar as ideias, e tomar decisões que em muito afeta nossa qualidade de vida e a vida de quem depende de nós.
Por fim, espiritualidade é isso, e mais que isso. Não é um “cano de escape”, mas uma postura que nasce de uma necessidade; de uma percepção; de uma ressignificação de nossas vidas; de uma busca; de um desejo. Algo que apesar de nascer de dentro de nós vai mais além do que nós mesmos e que nos impulsiona para a Vida. Sentir o vento, observar as estrelas a noite, curtir uma gostosa refeição, se sentir amado/a, doar-se a si mesmo e receber o outro/a ou algo de sua dádiva; tudo é válido e nos remete à espiritualidade, não uma espiritualidade fechada, devocional religiosa bitolada, mas uma espiritualidade que nos faz seres melhores do que nós fomos ontem, exercitamos hoje para sermos cada vez mais e melhores amanhã um pouco mais do hoje.
Não importa a tradição espiritual a que você pertence (se católica, espirita, budista, protestante, esotérica) se ela te ajuda a ser melhor e respeita as outras e os seres, e contribuir para a Vida e com a Casa Comum (o Planeta), parabéns, é um caminho, porém não o único.
Espiritualidade não é coisa só de religião, nela está implícita o social, a política, a ecologia, a família, o trabalho, a existência, o ser, a vida.
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- Como você entende a espiritualidade?
- Como você defini “uma pessoa espiritual”? Quais critérios você usa para isso?
- Nas suas relações interpessoais, no trabalho, no trato com as coisas, com as pessoas que “elementos espirituais” melhor diz de você mesmo/a?
- Para uma vivencia pratica da espiritualidade quais desses elementos apresentados aqui ou eventualmente outros que não foram elencados, você tem mais dificuldade de viver/exprimir? Porque?