Hoje em dia, há muitas igrejas e movimentos cristãos no meio do povo. Praticamente o Ocidente é quase todo cristão ou vive e respira ensinamentos cristãos, mesmo que não seja adepto de uma de suas ramificações: católica, evangélica, ortodoxa, ou até mesmo as chamados “seitas” cristãs. Seja lá como for, é quase impossível não ser ou não respirar o ar cristão. Até mesmo os famosos ateus, céticos, a-religiosos, não-religiosos vivem e respiram em sua prática de vida ensinamentos cristãos.
Então é pertinente a pergunta: o que é ser católico? E essa pergunta vem depois de uma outra: como não ser religioso? Sim, porque inerente à condição de praticar ou não um credo, uma confissão de fé, todo nós seres humanos somos entre outras coisas, por natureza, religiosos. Pode ser até que não confessemos um credo ou não pratiquemos atos “religiosos”, mas, no decorrer de nossas vidas, sempre e de algum modo praticamos religião e atos que de algum modo nos remete a “essência” da religião, do ser religioso, mesmo que não demos nome ou não associamos tais práticas a alguma religião ou credo. Somos religiosos, é próprio da condição humana. Até a ciência já sabe disso.
Então, no meio de tantas e tantas propostas religiosas e de grupos religiosos e cristãos, fica a pergunta: o que é ser católico?
Mais do que uma religião, mesmo sendo majoritária, mais do que um ritualismo e crenças, ser católico é um projeto, uma paixão. Projeto e paixão de vida que se desdobra sobre a força e as linhas do seguimento e do movimento a um líder cuja faceta tem as características de reunir em si a divindade e a humanidade.
Enquanto movimento é gerador e inspirador de inúmeras ações, altruísmo, transformações sociais, políticas, econômicas, culturais, intelectuais, e espirituais. Enquanto seguimento é fiel aos princípios do seu Mestre e Senhor, Jesus de Nazaré. Homes, mulheres, crianças, jovens, foram em suas fileiras transformados e transformadores. Tornaram-se modelo e inspiração e conduziram a muitos por uma vida reta e plena cuja suavidade, luz e guia foi o próprio Senhor com seu Espírito. No caminho do “seguimento” houve muito humanismo, muito “ser gente”, ser humano no mais radical da palavra. Do seguimento, nasceu muitas comunidades, congregações, movimentos pastorais, ações de solidariedade e amor gratuito. Pessoas deram suas vidas e encontraram a si mesmas, e encontraram algo “sobrenatural” que não as alienaram e nem as tiraram do mundo, mas pelo contrário, as levaram ao mundo, para o coração do mundo.
Doutro modo é verdade, muitos e não foram poucos, que tocados pela chama da ambição, do poder, do monetário e da facilidade de comunicação e domínio sobre os outros ofuscaram o ser católico; ocultaram o brio do ser cristão e ser cristão de matriz católica, mas nem por isso, tirou o brilho da catolicidade dos outros, em sua grande maioria. É verdade.
Hoje, quando há muitas e múltiplas formas e leituras do ser cristão em meio a tantas propostas e ser católico; volto meu olhar para aquilo que é a essência de ser católico e sobressaltam aos meus olhos uma riqueza imensa e singular dentro da comunidade católica. Enquanto movimento, temos que fincar o pé e não abrir mão de certas conquistas; enquanto seguimento temos muito a fazer e dizer ao povo e testemunhar do Jesus Nazareno.
É claro que falo do catolicismo enquanto movimento de comunidades, pois apesar disso, ele tem toda uma estrutura mundial e uma hierarquia milenar cuja “esfinge” tem muitas rugas e arraões que não vem ao caso, mas que, de alguma forma também tem sua participação e é parte integrante do movimento. Enquanto religião majoritária e com o peso que tem, de certa forma, ofusca a beleza, a leveza, o bom e o gostoso de ser católico, e mostrar toda gana de verdade e de fascinação. Mas apesar de e mesmo sendo assim, por outro lado, enquanto religião, com seus ritos, costumes, hierarquias, dogmas e tradição, o catolicismo constitui ainda o movimento mais verdadeiro, popular e seguro que temos quanto à vida, a história e os rumos pelos quais é dada a vida humana e do planeta. Apesar de tudo, ele ainda constitui o movimento e religião mais segura nesses tempos de crise, de vazio e de inseguranças, onde a cada hora aparece um novo desafio, novos pregadores e novos falsários e profetas cujo conteúdo é ilusório…
Ser católico é uma graça, uma graça que bem poucos prezam ou sabem do seu significado ou dê a devida atenção. Bento XVI em Aparecida assim dizia do se cristão católico : “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (DA 12: Paulus,2007) É justamente de um encontro com o Nazareno que nasce o ser católico, e isso é mais do que uma simples religião e atos religiosos: é uma graça, graça que se desdobra em seguimento e movimento por toda vida e que faz história.
Ser católico é mais que aderir a credos, dogmas, rituais, tradição e reverencias papal, é mais que crendices, mais que um projeto politico, social, ideológico, intelectual e econômico; e esse “ser mais” vai além das próprias estruturas do cristianismo em si, do catolicismo em si. Ser católico é uma graça que só tem eco e ecoa do próprio coração do Mestre e Senhor: Jesus de Nazaré.
Amo ser católico, amo a minha igreja católica apostólica, cujo centro administrativo é em Roma, na Itália. E como pequeno que sou, sou apenas um catequista aprendiz aos pés do Mestre e Senhor, fascinado pela sua graça acolhedora e pelo seu coração e rosto amante e amado. Feliz páscoa!