Alô!!!

“Eu liguei, mas não me atenderam. Liguei outra vez para outra pessoa, mas não pode me ouvir. Liguei para uma terceira pessoa e solicitei ajuda, foi de última hora. Não pode me antender. Liguei mais uma vez para outra pessoa que me disse que se fosse mais cedo, poderia ter me atendido. Liguei umas tantas outras e outras vezes, e a resposta foi sempre a mesma: estou cansada, ocupada, amanhã tenho isto ou aquilo, mas vamos marcar outro dia. Te ligo depois… E de ligação em ligação me dei conta que estava só. De ligação em ligação percebi que todos estavam no “seu próprio mundo” assim como eu estava no meu e certamente tantos e tantos que já me ligaram e por algum motivo também me desculpei. Na escuridão da noite, na solidão da alma, no clarão do dia… quando me dei por conta – havia apenas um não sei o que… estava vivo!”

Foi assim que aconteceu e acontece ainda agora! Estamos tão mergulhados em nosso próprio “eu” em nosso próprio “mundo” pessoal que mal nos damo conta do mundo “do outro”. Estamos tão arraigadamente desconectados da teia que tece as linhas de nossas vidas comum que mal percebemos nas entrelinhas a necessidade vital “do outro” que está entre a vida e a morte.

O que “nos ocupa” tanto a tal ponto de estarmos em desconexão uns com os outros exceto naquilo que nos importa? Será que a relação interpessoal com “o outro” se tornou apenas uma relação “utilitária” de modo que só reagimos aquilo que nos interesa? Por que sempre “o meu mundo” vem primeiro exceto quando preciso do outro para preenché-lo?

Comunicar-se é uma necessidade. A relação entre as pessoas é uma condição inerente a condição humana. Somos seres individuados mas também coletivos. Só somos “felizes” e temos “vida” na medida que nos entrelaçamos uns aos outros na escuta, no diálogo, nas vivências e no partilhar juntos da Existência.

É nessa dinâmica de entrelaçamento que nos damos conta que como diz o Pequeno Principe, “somos responsáveis por aquilo que cativamos”. E isto é o suficiente para que uma ligação seja feita em meio da noite, ou de uma hora obscura, ou de um momento alegre e decisivo.

Ligar ou receber uma ligação implica esquecer de nós por um instante e nos ocupa do outro. Muitas vezes nas entrelinhas de uma ligação se pode salvar vidas. Ligar é uma conexão! As vezes pode ser um pedido de socorro claro e preciso, outras vezes não estará claro, ele estará nas entrelinhas. E outras vezes ligar é apenas um ato “fortuito” no prazer de ouvir a voz do outro lado e compartilhar algo ou nada de importante, porque o importante mesmo foi “ligar”. Seja como for, ligar ou receber uma ligação nos faz parar e nos darmos conta “do outro” e “de nós mesmos” naquele momento, e isto faz bem, faz uma diferença sobretudo para quem está do lado de cá ou do lado de lá. É tão bom quando ligamos e do outro lado escutamos aquela voz: “Alô!” “Oi!”.

Em certo sentido… a vida recomeça, o sol brilhou, brilhou de novo! Alô?!