Primeiro Congresso Setembro Amarelo

Por: Sebastião Santana da Silva
(Sebastião Catequista)

Aconteceu em Caruaru-PE, neste final de semana, 29 e 30/09, o primeiro Congresso Setembro Amarelo, onde no geral, foi apresentado e discutido variados temas tendo como pano de fundo a questão do suicídio. “Continuar é preciso” foi o tema. Seu enfoque não estava necessariamente no ato em si, mas nos contextos que levam ao ato e suas diversas consequências bem como na qualidade de vida que levamos. Sim! Há um conjunto de “coisas” que envolve o ato, não é só o morrer, o “tirar” a própria vida. O enfoque do Congresso é simples mais ousado, porque é uma proposta de vida, uma janela que se abre dentro desse universo que é tão “silencioso” porque está diante de nós e não nos damos conta. Quando alguém morre por suicídio e ficamos sabendo, a primeira reação é de surpresa, assombro e depois, o sentimento de perda, ou de solidariedade com os parentes e aquela sensação interrogativa com a pergunta inevitável “o que que levou essa pessoa à fazer isso?”. A pergunta está formulada erroneamente, pois ela deveria ser: mediante essa fato o que a mim cabe pertence e fazer? Aí muda nossa perspectiva de olhar para essa história e para a vida, e a vida dos que estão ao nosso redor. Porque nos coloca de algum modo dentro desse universo e nos provoca à uma atitude, à uma ação. Penso que nessa linha o congresso trouxe valiosas contribuições a partir de uma visão científica, moderna, embasada de boas argumentações, e com várias perspectivas de olhares sobre essa realidade da vida. As falas dos palestrantes e dos participantes construíram e apresentaram excelentes contribuições para uma qualidade de vida melhor para as pessoas a partir de diversos Saberes, sejam eles a partir de uma narrativa e contribuição da espiritualidade, da religião, da psicologia, da saúde, da terapia, da psicanalises, da gerontologia, da ética, da assistência social, e tantos outros saberes.

Mas, o fato da reação que leva à primeira pergunta é uma visão muito “leiga” dos espectadores. O Congresso ao aborda o tema com a proposta “Continuar é preciso” parte da ideia que essa história, a histórias de nossos limites e desafios, nos impulsionam a olhar não para os problemas e neles ficar, mas para suas causas e que sentido elas nos impõe. Assim, “Continuar é preciso” enxerga mais longe, enxerga um sentido mais profundo e mais amplo que redesenha a própria vida em suas histórias pessoais e coletivas nos possibilitando uma melhor versão de nós mesmos como pessoas e como sociedade. “Continuar é preciso” foca na qualidade de vida, nas alternativas diante dos desafios que a vida moderna nos acomete. Foca nas relações pessoais e coletivas de ajuda mútua. Assim, o Congresso nos trouxe e expôs em suas várias mesas de debate a Esperança e a boa notícia: enquanto há vida, há alternativas e soluções. E que continuar é preciso. Mas continuar juntos, sozinhos e isolados não. É preciso dizer isso em alto e bom som para todos.

E nessa jornada da vida e vida com qualidade podemos contar com instrumentos modernos eficazes que os diversos Saberes do mundo científico e a pratica cotidiana dos grupos e pessoas que lutam por uma melhor qualidade e sentido de vida, têm a nos oferecer. São alternativas para uma vida melhor e mais humana diante dos problemas e desafios que aparecem. É preciso dizer aos quatro cantos e aos ventos para que chegue a quem de fato está aquebrantado na “noite escura” da alma, que não precisa sofrer sozinha, que ela não está sozinha, que, a vida não é uma ilha mas um oceano onde todos estão conectados com todos. Acreditar e apostar nisso muda vidas. E isso ficou muito claro com tantas belas e boas apresentações culturais e testemunhos de pessoas e grupos que atuam no dia a dia das pessoas.

O Congresso, deu visibilidade ainda mais aos pequenos grupos, as pequenas iniciativas, e aos parceiros dessa luta pela vida. O grupo Ponto e Virgula que à muito tem sido um anjo portador de boas notícias e tem salvado vidas é um exemplo claro.

“Continuar é preciso” não é uma “bula” ou uma “receita” para os problemas que acontecem em nossas vidas, mas é um grande diálogo, um grande debate, um grande mutirão de falas e participação, de troca de experiências, de inovação, que envolve toda sociedade. E isto vimos no Congresso como amostra do cotidiano de quem à isso se dedica voluntariamente, na “salvação” da vida para que ela flua naturalmente.

Que mais o Congresso traz de contribuição nessa jornada? Por ser o primeiro do gênero em nossa cidade, ele coloca com mais visibilidade para a sociedade o assunto; além do mais, põe Caruaru como expoente no Estado, convocando toda sociedade pernambucana para abraçar a causa o ano todo sob diferentes perspectivas e com uma rede de parceria mais ampla. Essa é outra contribuição do Congresso, ele abre, escancara às portas, amplia mais o debate. Talvez seus idealizadores não tenham pensado e visto sob essa perspectivas e nem tão pouco tenham mensurado o alcance de tão desafiadora empreitada. O Congresso aconteceu e deu seu recado e foi bem entendido por seus expectadores. E a sociedade num todo? Deixemos as coisas fluírem…

E o “Setembro Amarelo”? A cada dia não está mais sendo apenas uma “campanha” pontual mas, está se tornando cotidianamente um instrumento de apoio aos que gritam no silêncio de suas vidas por ajuda e socorro. Nesse sentido, os “anjos” – essa multidão de pessoas voluntárias – estão atentas a esse pedido e estão prontos a ajudar para quem se abre à ao novo.

E nesse mutirão de ajuda, de solidariedade, de construção de caminhos para uma melhor qualidade de vida, o Congresso populariza ainda mais a contribuição científica e acadêmica. A contribuição da psicologia, da psicanalise, da assistência social, da religião, da espiritualidade, da gerontologia, etc, tem demostrado no campo da pesquisa e da empatia com os sofredores excelentes resultados enquanto diferentes contribuições dos Saberes humanos para uma melhor qualidade de vida.

“Continuar é preciso” não é só uma afirmação, um credo, mas uma ousada proposta de vida que escuta os “clamores surdos e mudos” dos que na vida moderna procuram saídas, alternativas para uma boa e melhor qualidade de vida. Suas vidas! É uma afirmação da vida sobre a vida com diferentes e novas perspectivas. E isso implica uma afirmação de nossa humanidade, de que somos humanos, de que estamos vivos, de que temos sonhos, de que somos carentes de sentido, de realizações, de amor, de relações, de irmos mais longe. E nessa jornada precisamos despertar dentro de nós muito fortemente “ubuntu”.

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!

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