Deus…

Há muito tempo parei de “pensar” Deus, ou de pensar sobre Deus e seus planos. Há muito tempo parei de imaginar ou me aventurar no terreno “Deus”. Entendi que quanto mais assim agia mais distante dele eu ficava. Ideia e realidade não batiam. Então olhei para Jesus e vi que ele não o conceituava, nem tão pouco debatia sobre ele, simplesmente se dirigia à Ele, e dizia “Pai”. Só isso. Não pensava e nem conceituava o “pai”, simplesmente dizia ”Pai”. Compreendi então que deveria me entregar ao Mistério. Não havia mais o que fazer ou o que dizer. Religião não me fazia mais sentido e nesse caso, sua narrativa só me servia para uma única coisa: saber por onde eu não deveria andar.

Já Jesus, também não falou de religião ou á ela fez referência no trato com Deus. Sua relação com Deus passava pelo trato com as pessoas. Ele tratava das coisas simples do cotidiano; das relações entre as pessoas, como: dar esperança a quem a perdeu; curar a quem precisa continuar sua trajetória existencial; perdoar a quem já chegou no fundo do poço e entendeu que precisava do outro, precisava de alguém para se erguer de novo e de ouvir a “Voz” dizendo vai.. recomeça.

Jesus? Jesus é a referência nesse caminho, digo, do viver, do existir, do jeito de nos relacionarmos uns com os outros e do sentir o Mistério. Viver? Viver não faz sentido enquanto não encontrarmos a razão para isso, e essa razão está bem diante de nossos olhos, mas custa-nos enxergar. E quando não a enxergamos ou descobrimos, a vida se torna vazia, apenas um levantar e um deitar cotidiano tendo que buscar apenas o pão da sobrevivência. E o trágico pode acontecer: pessoas tirando a própria vida. Porque tanto faz está vivo ou morto, se na vida não encontramos o seu sentido mas profundo. E ai? Faltou fé? Não? Faltou esperança? Faltou religião? Não! Faltou amigos/as, parentes? Não. Nada faltou, só não conseguiu adentrar através de seu sofrimento no mais profundo do Mistério. Não achou o caminho, não havia quem o guia-se naquele momento ou não quis se deixar guiar, tamanha é sua dor e cegueira.

Mas enfim, se há uma coisa que aprendi é que, onde quer que estejamos, ou seja lá o que façamos, ou acreditemos, ou não acreditemos, estamos em Deus. Não há o que ou como explicar, “nele somos, estamos e nos movemos“, somos parte de um todo, do Tudo e do Nada. E o que nos resta então? Acolher no tempo o agora esperando o amanhã, sem esperança de ser melhor ou pior, simplesmente acolher, por que segundo Jesus, que não faz teorias, Deus, o Pai, sabe o que é melhor para nós. Daí acolher o amanhã como “hoje”, porque o hoje será passado amanhã e com ele, o que fica é a experiência do que se viveu para continuar vivendo o que a cada dia o dia nos dá. Resignação? Não! É! isso… é dádiva.

E a nossa relação com o Mistério, com Deus? Não tem como explicar, é muito íntimo, é muito carnal, concreto, como a relação íntima de um casal entre quatro paredes. Nada se sabe, nada se diz. Simplesmente é. Pode se cogitar, ensaiar teses, palavras, imagens…mas fica apenas na plausibilidade. Deus É… Eu sou… Nós somos… Mais que isso? É demoníaco, é perda de tempo, é não existir. “Deus”, ensina sabiamente as Escrituras, não se nomina e nem se “conceitua”. Simplesmente É.

Eis o Mistério, e o máximo que podemos sentir, e tocá-lo, é fazer a experiência de Jesus.

De algum lugar na solidão da alma e das ausências… ausências de quem queria muito que estivesse aqui… mas mais do que presenças, imbuído de uma Presença maior que por agora me habita me prostro reverentemente no mais profundo do meu Ser, e que tal prostração alcance a Tua Sagrada Face Misericordiosa. Amém.

25 de dezembro do ano de 2022 da Encarnação do Senhor

Sebastião Catequista.

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!

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