Brasil sem miséria

O nosso país, gigante por natureza, tem ainda um índices bastante elevado de miséria. E justamente querendo acabar com a miséria, elevando a vida das pessoas que estão nessa situação para uma situação cujo poder econômico dinamize a economia; os tornem pobres participantes economicamente ativos; possam usufruir de direitos e cumprir com deveres; possam se beneficiar de tudo aquilo que se diz cidadania; e saiam da miséria, é que o governo criou um programa constituído de vários outros programas e ações na tentativa de barrar a exclusão e miséria de nossa gente.

Tal programa no geral atende as demandas em diversas frentes: saúde, educação, moradia, assistência social, emprego, cultura popular e arte, empreendedorismo, qualificação profissional, atividades econômica informal, etc. Assim, os que estão na miséria, ou estrema pobreza, como é dito comumente, tem a oportunidade de sair da vulnerabilidade de risco social; de ascender socialmente e eleva o poder de compra dinamizando a economia. Dessa forma, segundo a lógica por trás dessas ações e da ideologia do governo, se erradica em poucos anos a miséria e a pobreza tem seu status ascendente de classe*** ‘E’ para “D”, nesse caso, o país que é rico de um tudo e que está em pleno desenvolvimento mesmo acabando com a miséria e exclusão social tem ainda assim, pobres, mas pobres que não criar “pobreza” para o sistema, porque o sistema os trata com dignidade, cidadania e prover as suas necessidades conforme os interesses da soberania nacional: ordem e progresso.

Mais de 1,6 milhões de pessoas são beneficiadas com o programa social ou deveríamos dizer, com os programas e diversas ações do governo. Muitos saíram da “miséria”, deram rumo as suas vidas, ascenderam da miséria e se sentem “dignificados”, outros, tiveram suas vidas radicalmente transformadas, mudadas, muitos outros ainda realmente ascenderam de classe. São os “milagres” do sistema e do bom governo. Porém, por outro lado, há muito o que fazer. Muitos ainda não foram contemplados ou não chegou até eles as graças dos programas do governo. Inúmeros fatores contribui para isso, deste a burocracia, pendencias com documentação, inoperâncias de técnicos e por ai se vai, entretanto, a propaganda oficial não deixa dúvidas e nem pessimismos: o Brasil está evoluindo no combate a miséria e a favor dos pobres. De repente todos os brasileiros estão empenhados nisso. É consenso que a miséria tem que acabar. Inclusive, nosso querido Dom Hélder Câmara, já profetizava a respeito e nos últimos tempos de seus dias chamava a atenção de todos para isso. Ele dizia que era preciso humanizar, correr atrás e saciar a fome de milhões. Entretanto, o “Dom” não era ingênuo e sabia que uma empreitada desse tipo passava pela política, pela economia, pelas relações sociais, pela criação de uma nova mentalidade e abertura de mente e de coração. Sabia que só discursos e ações não seria o bastante, era e é preciso mudar o sistema e o sistema mudar.

E aí chegamos a uma questão crucial: Mesmo o governo criando e agindo com políticas públicas que atende a necessidade e demandas, fica um vazio e uma sensação de que na verdade tudo isso não passa de uma verdadeira “rede de assistencialismo” onde os beneficiados são contidos por um lado em sua pobreza, podendo alguns sair dela para uma classe mais favorável e tirar de cima de si o estigma da pobreza; e por outro lado, criando “pobres” que permanecem no que estão porque lhe é confortável, uma vez que o governo lhe garante o “sustento” de uma vida “digna”. Nesse caso, a profecia heldeana tem suas razões e nos vemos diante de uma grande “armação” política, mais que “um programa” que move para mudanças de estruturas e estruturas de mudanças. Sabendo que todos nessas circunstancias temos que mudar.

Mais enquanto estruturaras de mudanças que precisa realmente mudar, os pobres excluídos e/ou os miseráveis não são tidos como protagonistas, como agentes transformados e transformadores, mas unicamente e exclusivamente, como “beneficiário”, sem que haja uma “transformação social” significativa. Assim as pessoas beneficiarias, são tidas e vistas não como seres-coletivos, mas seres-indivíduos que estão no processo como dependentes, mais que agentes transformados e transformadores. Aprendem para mudar de vida, transformar sua realidade subjetiva, mas não sua realidade coletiva, política, social, ideológica-transformadora, enquanto ser- social-para…

Falta uma mística que mova a todos, que construa um projeto de nação, pois tão logo outros governos vierem em sucessivas eleições, em contextos diversos, novas “formulas” para salvar o povo da miséria, da pobreza, principalmente o povo dos pobres, aparecerão, e nesse caso, veremos como muitos dos programas que a muitos hoje beneficia e tira da miséria, ficará para trás e obsoletos. E aí nos perguntaremos: que projeto de Brasil construímos até aqui e queremos daqui pra frente?

O Brasil é imenso, em todos os sentidos, e por isso mesmo é impossível aglutiná-lo de modo uniforme, porque ele é multiplural, e disforme, entretanto, precisamos sonhar um país soberano cuja participação maciça e popular não seja só nas eleições, nos campeonatos de futebol e nos momentos de crise política, econômica e/ou partidária. Precisamos sonhar um país popular e lutar para que “todos tenham vida e vida plena” sem depender de migalhas e assistencialismo que beneficia a população é verdade, mas lhe veda os olhos, a consciência e a garra de lutar como povo, já que “um filho teu não foge à luta e nem teme a própria morte”.

Eis, pois alguns elementos para ajudar a refletir, formar opinião, sonhar um país justo e mais irmão.

Que pais estamos construindo? Para onde nos levará?
Como num país tão grande é possível mobilizar o povo com os seus mais diversos partidos políticos, ongs, ministério público, grupos religiosos, entidades, órgãos governamental e não-governamental, grupos culturais e os que estão a margem para a construção de um país mais justo, com mais e maior participação popular?
Como eu, você, nós, podemos em nossa local de moradia e trabalho, colaborar na construção de um Brasil melhor?
Será que só passa pela política, a transformação social ou é um conjunto de muitas outras coisas articuladas? Como entender tudo isso?
Quais os sinais (meios, pessoas, entidade, grupos) que você conhece e vê que estão preocupados com um Brasil melhor? Que critérios você usa para essa analise e conclusão?
*** Divisão das classes segundo o IBGE:

Classe A – Quem tem renda acima de 30 salários mínimos
Classe B – De 15 a 30 salários mínimos
Classe C – De 6 a 15 salários mínimos
Classe D – De 2 a 6 salários mínimos
Classe E – Até 2 salários mínimos

(Fonte: http://www.hostpobre.com/como-descobrir-sua-classe-social.html)

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!