Ana, Betto, Katianny: abelhinhas no jardim

Por Sebastião Catequista

Caros leitores destas linhas, o texto que agora escrevo e que você certamente ler é longo, eu sei, mas se justifica pelas ações e histórias de vida de suas personagens. Advirto-lhes, porém, que minha narrativa é uma leitura de fé antes mesmo que você conclua ser uma homenagem, bajulação, admiração ou exposição dessas pessoas. Minha narrativa é tão somente uma leitura de fé e audácia que enxerga a ação divina em coisas e pessoas como alimento da Esperança nesses dias caóticos.

Falo de Ana, Betto e Katianny, como são conhecidas. Três figurinhas de fé e que nasceram na tradição religiosa de matriz católica e que de algum modo aí se conheceram até onde eu saiba e me lembre. Cada uma dessas personagens em tenra idade vivia a expressão da fé nos círculos e grupos juvenis da crisma, da RCC e de grupos de jovens, onde ali se alimentavam dos conteúdos e narrativas próprias que lhes davam embasamentos de sua vivência de fé e visão do mundo.

Como todos os outros jovens daquele contexto religioso eles mergulharam profundamente naquelas vivências e a testemunharam nos círculos igrejeiros e familiares com muita intensidade. Parafraseando os evangelhos “eles estavam cheios do espírito” de Deus como acredita-se na tradição católica, após crismados, e que assim sendo, cumpriam naturalmente com suas obrigações “religiosas” engajados. Visivelmente eram orgulhos da comunidade e de algum modo eles como todos os outros, penso, se sentiam assim. Mas Deus tinha lá seus planos, e suas histórias de vidas tomaram outros rumos dando-lhes maturidade suficiente para serem fermento na massa longe das circunscrições igrejeiras.

Cada um a seu modo sob novas expectativas e narrativas, até mesmo de se lhes impostar a fé que receberam como na parábola dos talentos deram novos rumos aos seus “carismas” com novas descobertas e ambientes. A vida é dinâmica e não fica presa e circunscritas a círculos, vai mais longe e, com ela, as experiências de vida e os “dons” recebidos e apreendidos. Então, em suas histórias de vida com suas ações, seu gosto e luta pela vida, salvando vidas, sendo no meio da sociedade vozes de consciência, lhe dão o crédito de serem cada uma das personagens a seu modo, discípulas/os de Jesus Nazareno e profundos personagens movidos pelo Espírito. Suas histórias de vidas e as lutas que assumiram margeiam os limites da própria instituição religiosa e vai aonde a vida precisa eclodir numa explosão plena de sua própria historicidade como as águas que perpassam os leitos dos rios indo desembocar nos oceanos de sua própria existência. Tais personagens movidas pelo Espírito dão sentido a sua vida e de tantos outros do levantar ao deitar cotidianamente pelo simples fato de acreditar na vida, acreditar que uma pessoa vale mais do que o mundo porque o mundo é feito de pessoas e cada qual com sua história a desabrochar como flores de um jardim cuidado pelo grande jardineiro, o Divino criador.

Como todo mundo, essas personagens dos quais falo também tem problemas em suas vidas, mas esses são bem menores frente à vocação do qual respondem com o seu sim a cada dia ouvindo a voz de Deus em cada história de vida e pessoa que se entrelaçam em suas histórias pessoais precisando de ajuda. Como Jesus foram forjadas nas fileiras da religião para ir além dela, fazer valer aquilo que na narrativa da teologia joanina o apóstolo descreve como sendo ” Vida ” o reinado de Deus.

Cada uma dessas personagens a seu modo e a seu tempo, com suas narrativas de fé, demonstram estar possuídas pelo “espírito” de Jesus em favor da vida. Suas ações de engajamento na vida constitui para cada uma sua espiritualidade própria que além de salvarem vidas lhes dão um propósito para viver. Suas habilidades e aptidões para além do profissionalismo inspiram fé, resistência, sentido e significado. E aqui, quero sob certo olhar de fé, narrar o carisma próprio de cada uma das personagens que, como disse, para além da bajulação, é um olhar que ver esperanças, sobretudo na vida dos quais essas personagens agem por seu profissionalismo e por seu profundo senso espiritual de amor a vida, a vida humana. Daí penso que esse são os seus melhores “dons” (carisma) recebidos e bem trabalhados por eles próprios.

Ana conheci na crisma, meiga, gentil, doce, extrovertida, bonequinha, era toda atenção em afeto juvenil. Com o passa dos anos sua vida lhe deu uma sabedoria e lhe fez desabrochar o seu melhor de humana. Quem conhece sua história de vida sabe das suas dores, das suas lutas e das suas resistências, que não se curvou diante de preconceitos, estereótipos e julgamentos. Mas pelo contrário, sempre foi guerreira e diante dos fracassos da vida sempre foi otimista. Soube fazer desses fracassos sua força e ser para tantas outras pessoas em suas histórias de vidas uma luz na causa que ela mesma se põe como modelo por amor a própria vida. Seu amor ao ser humano e a vida a leva enfrentar cada dia forças terríveis para fazer valer com seu sorriso com sua simpatia e com sua empatia aquilo que há de mais sagrado para a própria vida: viver. Seus vídeos no Instagram tem criado uma verdadeira onda de amor à vida e salvo o dia e o sentido da vida de muita gente que como ela enfrenta o câncer e o preconceito que daí acarreta. Ana é uma mulher ímpar, extrovertida, profundamente espiritual e simbolicamente uma flor sem defesa que exala o mais precioso perfume do amor e da vida para todos aqueles e aquelas que a cercam no dia a dia, e para todos os internautas que a ver em seus vídeos com toda a sua beleza e bom humor. Sua luta pela vida é uma pulsação do Espírito de Deus onde a vida está mais frágil, e seu exemplo arrasta multidões no ato de fé pelo que há de mais belo em viver: está viva aqui e agora e poder aproveitar isso intensamente com toda graça e beleza que o hoje lhe dá, nos dá. Seu olhar e sua leveza me encantam e sua história de vida me comove as entranhas no sentido de amar a vida tão intensamente como a Ana. Sua história de vida e sua narrativa de fé alimentam a minha crença de que vale a pena viver para si e para os outros em nome da própria Vida.

A outra personagem da história é o Betto. Sua história de vida é uma história de superação e também de resistências. Simpático e discreto, prestativo mas na dele, não passava despercebido por mim. Via nele uma luz, mas não sabia-lhe mensurar. Sua história de vida é comum como de qualquer outra pessoa, porém, carregada de um forte sentido e luta. Para longe dos preconceitos e estereótipos que fazem, todos aqueles que dele se aproximam percebe o sol que dele irradia em luz, e que ilumina as trevas daqueles e daquelas que ainda não descobriram o sentido e o potencial mais profundo de suas vidas.

Sua luta pela vida e para salvar vidas que estão na escuridão de suas próprias existências amargurando suas dores e os sentidos sem sentidos nos faz compreender que seu dom em uma narrativa de fé seguindo os passos de Jesus para além dos círculos religiosos soa-nos boa notícia de salvação.

Nascido de dentro do seu coração na luta pela vida e pelo seu sentido mais genuíno, o Ponto e Vírgula, não é um movimento mas um espírito que desencadeia e dissemina na sociedade sobretudo na vida das pessoas que estão em crise e sem sentido existencial poderosas pétalas de amor e recomeço de vida existencial num grande e circular acolher, escutar e ressignificar a própria existência. Sua genial experiência de vida enquanto resistência e ressignificado traz vida e sentido para tantos e tantas que no frenesi da sociedade moderna perdeu o que de mais sensível e mais importante tem para si e para os outros: viver e amar como ingredientes que dão o mais profundo sentido a existência humana. Mas do que uma missão essa sua intuição é obra do Espírito na vida de tantos e tantas que são alcançados, alcançadas, através do Betto, pelo amor de Deus, segundo uma compreensão e narrativa de fé.

Sua vida e sua história são uma narrativa de fé, de resistência e de luta todos os dias para que pessoas tenham vida digna. Também seus vídeos e convidados no Instagram têm sido de grande ajuda e relevância e mostra-nos seu excepcional carisma. Confesso que me comove e que me incomoda no bom sentido, esse profundo senso e espiritualidade pela vida. Seu carisma me empodera a ser uma voz contra aqueles que nos círculos igrejeiros estereotipam os que fazem opção de vida diferente. Sobretudo os mais pobres entre os pobres. Sua luta enobrece a causa de Jesus que é ter vida e vida boa com dignidade, acolhida e inclusão. Por seu meio ele chega aonde ninguém quer chegar: no coração daqueles que não encontram mais sentido de vida ou forças para lutar e continuar a viver. A partir de uma narrativa de fé esse é seu carisma, creio meu carro Beto.

A terceira personagem tem muito haver com a história dessas duas grandes figuras pelos entrelaçamentos de suas histórias de vida, mas também pela sua abnegada luta pela vida dos que na vida perderam o sentido de viver. São amigas de longa data. De katianny se pode dizer que sua inteligência e ambição, suas qualidades e aptidões superam a sua própria história de vida, enquanto mergulha mais profundamente e profissionalmente naquilo que constitui o fundamento mas genuíno da fé cristã: servir à vida, servir às pessoas. E a justificação para isso não é o seu profissionalismo mas seu profundo amor à Vida, ao Ser humano. Por que ela é assim! Uma mulherona inquieta que não sabe viver para si sem dar-se ao outro, e receber do outro o que há de melhor: sua própria existência como uma flor que embeleza o jardim, exalando aos quatro ventos o cheiro da sua própria história cheia de significados e significantes que nos faz a todos conectados por um único propósito, viver. Viver e viver com dignidade é a marca de sua história que incansavelmente luta todo santo dia através do seu profissionalismo social para que a vida seja mais vida mas histórias de vida das pessoas, porque viver e viver com amor é o sentido mais profundo do Existir.

Sua solidariedade, conforto e ajuda aos mais pobres, aos que perderam o sentido da vida, aos excluídos, aos que buscam na vida se encontrar, e se reconectar com sua própria história de vida, a torna,  a partir de uma narrativa de fé, herdeira de Jesus na sua mais profunda proclamação das bem-aventuranças. Sua luta a descreve mas é seu amor pela vida e seu compromisso com a causa que melhor empodera-me a dizer e enxergar o seu mais precioso dom do Espírito numa narrativa de fé: empatia social. Por esse caminho Deus manifesta ao mundo, às pessoas o quanto Ele as quer bem.

Indo ao encontro dos que estão emaranhados pelas suas depressões e esquizofrênices, bem como daquelas pessoas que, em algum momento perderam o rumo da vida ou se desconectaram de suas próprias histórias habitando uma “noite escura da alma”, Katiane sabe e aparece como um instrumento que leva essas pessoas a buscarem com mais força e fé, as respostas para suas próprias angustias. Esse seu carisma embasado como disse, pelo amor a vida e ao ser humano lhe faz herdeira da tradição de Jesus que vai além dos círculos igrejeiros e de uma religião estigmatizada como vemos por aí nas esquinas da vida, como “farmácia selv service”. Seu profissionalismo exacerbado lhe é uma espiritualidade para além de si própria um amor incondicional à vida. Eis o mais belo de seu carisma dado pelo Espírito.

Não sei como concluir esse texto, mas sei dizer o que com ele queria narrar: Deus age de modo estranho e diverso na vida de pessoas simples com suas histórias de vida e de superação ou de amor solidário. Em cada uma delas, vejo deste o longínquo anos lá de trás, seu Espírito atuando com os dons que o mesmo depositou no coração dessas pessoas e pela própria vida as capacitou para serem e fazerem o que fazem hoje: ser na vida e para as pessoas uma voz a lhes dizerem, vão, adiante, a vida é mais, bem mais, e você consegue. Vão! Adiante! Você consegue ser o que nasceu para ser. É isso! Essas três personagens aqui relatadas são isso e na sua história de vida a partir de uma narrativa de fé que enxergo, vejo nelas esse parecer. E digo, não só essas três personagens mas conheço muitas e muitas outras que com suas histórias de vida e com seu carisma me encantam. Minha lista é imensa! Louvo à Deus porque minha história de vida em algum momento foi entrelaçada com as delas e se hoje as tenho em alta e cultivo suas memórias, é porque foram e são flores a embelezar meu jardim e exalam perfumes de profunda motivação: viver e não ter a vergonha de ser feliz!

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!

1 Comentário

  1. Também tive o privilégio de conhecer essas 3 figurinhas de fé! Que honra! Cada qual com sua singularidade e respectiva visão sobre a vida somando com a nossa! Bela descrição deles, Sebastião!

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