Perguntar por Deus naturalmente sugere-nos perguntar pelo homem. E essa pergunta transcende sua própria essência, porque Deus e Homem, mesmo estando em lados e mundos distintos constituem essências diferentes e interligadas de maneira tal que é impossível se referir a um sem notar e fazer referencia ao o outro e vice versa.
A tradição filosófica, como da ontologia, da metafisica, da teologia nos deu uma enorme contribuição a partir do pressuposto da razão e da fé. Essa contribuição tem ajudado a sociedade e a religião a responder as indagações dos homens e mulheres de cada época e suscitando novas buscas, contudo, e ainda assim, ela se mantém nos meios acadêmicos, escolas de nível superior, no mundo dos letrados e afins. O povo não tem e nunca terá acesso a essas informações e doutrinas, todavia, entretanto, o povo, faz sua experiência de Deus e formula sua pergunta (a respeito de Deus e consequentemente sobre si mesmo, sobre a existência e seu fim ultimo enquanto individuo e enquanto povo) a partir do cotidiano da vida e das mediações e categorias que estão ao seu alcance.
A vida nos possibilita perguntar e formular respostas a cerca do homem, de Deus e destino ultimo de modo prático, e tem outra forma de acumular saber e experiência muito mais sutil que possibilita uma experiência paradoxal e sem precedente. Com isso, a sabedoria popular faz o caminho que a tradição dos estudiosos com seus jargões e palavras técnicas fizeram, porém, sem se deixar levar por intelectualismo vazio que não traduz ou não consegue traduzir numa linguagem comum do povo a riqueza descoberta e acumulada ao longo dos anos.
Talvez para as gerações de hoje, seja exatamente essa a questão. Uma educação formal de anos a fios em escolas públicas e particulares não conseguem fazer com que seus alunos sejam criativos e produtores dinâmicos de novos conteúdos, justamente porque foram ensinados a receber conteúdos sem que ensinassem como transformá-los e produzir novos conteúdos de modo pratico para a vida cotidiana e numa linguagem próxima a do povo.
E mais grave ainda, tais conteúdos não ajuda a refletir o sentido da vida e da pessoa humana e consequentemente o sagrado. Tudo que aprendem é descartável e meramente para produzir conforme a lógica do capital e do meio comercial. Daí entender porque muitos são vazios e não conseguem elaborar uma reflexão sui gêneres sobre a própria história de vida e sua dinâmica na coletividade. Pior ainda, não conseguem perguntar pelos valores duradouros como perguntar por Deus, perguntando pelo homem.
Não é raro ver casos de alunos que sai da escola para faculdade e da faculdade para a vida, sem que saibam ler por entre linhas o real significado do que ler, principalmente jornais e revistas. Não sabem ler o obvio e nem analisar e chegar a uma conclusão. Logo a vida com suas peculiaridades e a relação com a divindade, com as coisas que são efêmeras e com as que realmente são significativas lhe são estranhas.
A vida e os grandes temas que ela nos sugere passam a margem de suas próprias vidas porque não conseguem analisar e tornar isso pratico para a própria vida. A geração passada aprendeu a perguntar, a buscar respostas, a criar novas possibilidades. Hoje, esse feito está se esvaindo. É fácil perceber que muitos autores dessa geração até que se esforçam, mas não tem a mesma profundidade em seus conteúdos como os da geração passada. Eles fazem falta.
Começamos nosso artigo afirmando que sempre perguntar pela divindade é perguntar pela condição e pessoa humana e que de alguma forma a existência de ambos se mesclam de modo inseparavelmente de certo modo. As consequências é o surgimento de um leque de temas e questões que desemboca na vida cotidiana e na tradição secular e milenar dos que já passaram por aqui. Entendo que a cada dia, o mundo moderno avança em tecnologia, riqueza e sonhos. Avançamos na história da humanidade assustadoramente, mas estagnamos ou regredimos em vários campos da vida, e um desses campos, é a capacidade de interagir conosco mesmo, com o meio ambiente e com a divindade. Estamos perdendo a noção do que realmente é perene, duradouro, significativo, daquilo que é efêmero, passageiro e descartável.
Pois é, fica ai a partilha dessa questão. Quem sabe partilhando, juntos poderemos fazer enxergar a uns poucos a beleza que é ser humano, que é se aventurar na/com a vida e o sentido ultimo e sagrado que é e que vem de Deus. Pois, por trás de cada ato da vida, em cada área ou setor do nosso cotidiano está subjacente uma pergunta ontológica e uma resposta teológica sobre Deus, o ser humano, a vida e a dinâmica da existência nos proporcionando novas relações, novas descobertas e novos desafios.