“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós e nós vimos a sua glória.” (cf. Jô 1,14a) Eis o grande testemunho incontestável da fé cristã. Deus, a suprema divindade, se esvazia de Si, deixa o seu “habitat” e assume a condição finita e humana para está conosco. Porque o fez e que conseqüências sobreveio à natureza de toda a criação?
Porque o fez é um mistério que só se alcança com a fé ainda que não de todo esclarecido; as conseqüências estão na história e no cotidiano de nossas vidas e no desenrolar da mesma, onde o amor divino se coloca diante dos nossos olhos fazendo nos render as evidencias dessa presença e encarnação do divino no humano. Eis o mistério da Revelação.
Esse Mistério (Deus que se revela e que assume a condição humana) o celebramos nas comunidades cristãs dia-após-dia com a sagrada Liturgia, e o contemplamos vivamente através de nossas devoções e ações pastorais.
Um mistério tão profundo assim (Deus que se revela e que se fez humano) só é possível captar e compreender com a fé à luz da razão; e de outra forma entende-lhes o significado a partir do pobre. Porque o pobre por assim dizer, analogicamente, é a carne exposta daquilo que é genuinamente o ser humano em sua realidade real e atual e justifica o ato mais profundo de amor de Deus amante: a divina Encarnação. É a partir da ótica do pobre e de sua pobreza que conseguimos captar em parte, e compreender de modo inequívoco o agir de Deus; e o comover de sua Compaixão pela criatura amada.
Eis outra faceta do mistério da Encarnação que foge a lógica mundana e ideológica da própria fé. Para encontrar, contemplar e estabelecer relações com Deus, entre muitas outras formas e meios (ex.; a religião) o pobre, também é um canal. Entretanto, o pobre não é o “X” da questão, mas Deus mesmo, porque sendo Deus assumiu de nossa pobreza humana e por meio dela nos enriquece com seus dons.
É a partir da realidade de nossa pobreza e da nossa condicionalidade limítrofe que podemos manter um relacionamento recíproco com Deus através de nossos semelhantes e compreender o seu agir que mesmo em sua suprema divindade é sumamente humano.
O desdobramento desse mistério revelado: Deus conosco, humano como nós, é visivelmente celebrado na cultura ocidental através do natal e na liturgia através das demais festividades, sobretudo das solenidades do natal, da epifânia e do batismo do Senhor, neste tempo. Cada qual com sua particularidade nos mostram quão verdadeira e humana é a encarnação de Deus, bem como tão divina é sua natureza.
Deus está no meio de nós, se comunica conosco, nos ama, é amigo e companheiro. O encontramos através de muitos modos e meios, um deles é o pobre.
Nas periferias há uma Belém, ela nos aguarda para um encontro inesquecível. Nela o natal não é 25 de dezembro, mas todos os dias. Deus é Conosco. Eis o mais profundo significado do Mistério da Encarnação. Eis o elemento primordial que funda nas culturas o Natal.