Está vivo! E daí?

Por: Sebastião Catequista

Nos tempos antigos, a crença de que havia vida após a morte era algo muito forte na vida e na cultura dos povos do antigo Oriente. A forma como isso acontecia era discutível. Não havia senso comum. Mas, afirmar que um morto voltou à essa vida era demais… nunca houve nenhum relato, algo visto. Nem mesmo por especulação. Não há registros.

Se houvesse algum relato assim esse era entendido de modo, como dizemos hoje, “mito”, “lenda” e que tinha lá seu significado. Ou talvez fosse alguma ‘peripécia” dos “deuses” à semelhança das “crenças gregas”. Mas, concretamente, um homem ou mulher ter voltado da morte é impossível.

É claro que havia relatos de pessoas que “morreram” e que voltaram à vida, mas isso era o que entendemos hoje, por estado de “coma”, ou algo do tipo. Não era morte de verdade, natural. E provavelmente teriam tidos por todos como “bruxos” ou “coisa do tipo” se isso não fosse “castigo” “brincadeiras” dos deuses conforme suas crenças “primitivas”.

O fato intrigante é a afirmação de alguns, de que o galileu nazareno que fora morto e enterrado, agora vive e fala com os seus próximos. Esse fato teria passado descuidado, sem sentido ou significado em si, e talvez teria ficado “enterrado” para sempre na memória dos que o afirmavam, exceto, pelo que aconteceu depois.

E o que aconteceu? Seus amigos e testemunhas, homens e mulheres, começaram a ser na sociedade de então uma força poderosa de transformação. E agiam assim, pelos ensinamentos que do ressuscitado haviam recebido. Um ensinamento que diz respeito ao ser humano em si, que fala do sentido da vida e da eternidade, que muda a postura de compreender e se relacionar com a divindade, e com a própria sociedade e suas formas de se relacionar, se organizar.

E assim, de pessoa a pessoa, de pequenos grupos em pequenos grupos, de palmo a palmo daquele chão essa ideia foi tomando conta, crescendo, fazendo amigos e inimigos até alcançar e chegar onde chegou.

Mas, o que tem haver isso conosco? Hoje, saber quem ele é, o que fez, e saber que está vivo não muda em nada nem toca tanto assim aos contemporâneos como aconteceu naquelas sociedades “primitivas”. É apenas uma crença entre tantas outras que têm por aí no “mercado”.

Talvez o problema esteja aí: por perdermos o sentido das coisas e o senso de continuidade é que generalizamos e damos um sentido ao “sagrado” que apagou das consciências a mensagem e sua força de transformação. Saber e crer no nazareno como ressuscitado, não nos diz muita coisa e não muda em nada nosso modo de existir aqui e agora. Não muda nossas relações e nossas posições na sociedade moderna. Nossas preocupações são outras, e acreditar nele como “um Deus” é para nós hoje, mais vantajoso à consciência, do que acreditar naquele que com seu jeito, ensinamentos e postura frente ao “poder sagrado” da religião, da política e das relações sociais, sucumbiu por tal postura à morte e ressuscitou.

Sua figura como um incólume monumento religioso que “serve” como “ideologia” a vários grupos que configuram a religião ou movimentos sociais já está de bom tamanho, e serve às consciências como um deus/ídolo que “faz nossas cabeças” naqueles momentos que precisamos acreditar, acreditar em algo, para não sucumbir a depressão e definharmos em remédios até à morte. E isso já é de bom tamanho.

O que tem haver conosco o crucificado vivente? Tudo e nada. Depende do contexto e do ponto de vista e da necessidade de quem olha. Depende “do lugar” que enxergamos e nos aproximamos dEle.

Está vivo! E daí? “Está vivo” não nos diz muito, exceto do que recebemos pela tradição da religião: que “há vida após a morte”, que fomos “salvos”… “E daí?” também não nos diz nada que faça realmente sentido e que nos leve a uma postura diferente, incomodada e incomodadora, revolucionara, libertadora, que nos leve como as primeiras testemunhas a mudar algo na sociedade de agora. E que tal postura e mudança nos remeta ao sentido último como foi para elas.

Celebrá-lo e celebrar a páscoa a cada ano, soa apenas aos sentidos do mundo moderno, um ritual religioso que “não mexe” com as “entranhas” da existência real e concreta, porque já domesticamos demais nossas consciências. Talvez por um milagre, possamos voltar e fazer a “leitura” que está “por trás” dos textos e dos fatos, e resgatar aquele “espirito” que em tão pouco tempo, modificou toda a estrutura e tecido social de um império, de povos e culturas… E esse milagre começa a se realizar quando mudarmos nossas consciências, e assim procedendo recebamos de novo o espírito do crucificado vivente. Ele está vivo! Ressuscitou!

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!