Há poucos meses no Rio houve um mega evento com mais de três milhões e meio de pessoas: a visita do papa Francisco. Os números são impressionantes em tudo: pessoas, alimentos, segurança, acolhida, dormitórios, jornalistas, lixo, água consumida, etc., no geral o evento e os números foram positivos.
O que mais impressionou nesse mega evento? Houve muitos momentos, gestos, pessoas e atividades. Não é possível enumerar um em detrimento de outro, outrossim, podemos, pois, dá evidencias a alguns para se nos apercebermos do conjunto no todo. Entretanto, não é sobre isso que tratamos aqui, nesse artigo. Trazemos à lembrança esse mega evento porque constitui um símbolo espiritual e uma chave para ler o fenômeno religioso católico da atualidade e ver por outro lado, como o mega evento do rock in Rio ajunta multidões e consegue por em evidencia a cultura em chave de consumo e do capitalismo. Mais vejamos.
Por alguns dias foi possível no mega evento do papa lhe dá com a diversidade de culturas, línguas e grupos diversos. Por alguns instantes houve paz, sentimentos de solidariedade, de irmandade, de amizade, de proximidade, de amor, de alegria, de bondade, de harmonia, como num arco-íris algo poucas vezes visto e experimentado pelos humanos. Foram momentos de êxtases coletivos. Foi algo inaudito que aconteceu sob a bandeira da fé, do Cristo e da religião. Para todos os que viveram aqueles momentos, algo indescritível.
Não com a mesma intensidade e sinais, mas acontece agora, outro mega evento com a presença de oitenta e cinco mil de pessoas, e que já se tornou uma tradição: o Rock in Rio.
O Rock, enquanto um estilo de música marcou época, fez fãs, conquistou gerações. Suas letras com um barulho ensurdecedor gritava para a sociedade de então seu protesto contra os valores assumidos por ela. Também a música do Rock falava de amor e sexo; da futilidade da vida; dos sonhos intensos cuja realidade se exprimia através do prazer. Falava de uma sociedade que não escutava os jovens e do cataclismo em linguagem simbolicamente escatológica. Símbolos como cabelos grandes e despenteados; sandálias e roupas descontraídas; cigarros e bebidas, e inclusive drogas entorpecentes faziam parte do universo dos roqueiros; mas o símbolo maior e predominante e que diz muito desse estilo de musica e cultura era/é a guitarra.
Com o passar dos anos, o Rock perdeu a vitalidade de seus protestos, ficou menos inconsequente. Por outro lado, ainda temos um rock com muito barulho e menos protestos; mais melodia e menos gritarias; mais exibicionismo vazio e menos conteúdos concretos. Também é verdade, diversificou sua linha de pensamento e foco. Há o rock mais agressivo; outro mais romântico; outro que nada diz; outro mais de cunho social; e outro mais aberto aos temas quentes emergentes. Assim, o rock vem atravessando gerações e por isso, a ideia de celebrar um festival constitui uma cultural pelo qual reúne antigos e novos adeptos cuja finalidade é manter e disseminar esse ritmo musical; como também, ser um momento propício para grupos empresariais e o sistema econômico fazer o que sabem fazer de melhor: estimular o consumo, vender.
Segundo essa última ideia e visão, os cantores de rock que viraram ídolos na boca e na vida do povo constitui do ponto de vista artístico-econômico um produto bastante rentável do qual os consumidores, no caso, o público, pode desfrutar livremente e adquirir seus DVD’s e outros produtos, imortalizando seus ídolos e esse momento que é o Rock in Rio. De outro modo, que sentido teria a realização e celebração de um mega evento?
Segundo estimativa, durante alguns dias, mais de oitenta e cinco mil pessoas lotaram o “templo” do mega evento para ouvir, dançar, prestigiar, celebrar seus ídolos e suas canções. São momentos de delírios, de prazer coletivo em meio a shows com potencia fenomenal das artes cênicas, cinematográfica, circenses e visionistas que encanta, faz esquecer por alguns instantes a realidade concreta do cotidiano e viver por alguns instantes se quer, sentimentos, momentos, histórias, que saem do imaginário e da psique individual-coletivo e contamina o ar de felicidade e prazer glamoroso.
Comparado ao evento anterior – o papa – não tem comparação, porque estamos em dois mundos distintos e diferentes, mas que na pratica constitui um só: a vida. Não dá para comparar, entretanto, podemos aventurar e tecer algumas reflexões e expor sentimentos e valores.
Os sentimentos, gestos de solidariedade, por diferentes mecanismos produziram bem-estar; ambos os eventos foram extravasantes de energias singular. A consciência do engajamento na vida concreta e os valores eficazes em evidencia no primeiro é muito mais forte do que no segundo. O Rock in Rio enquanto mega evento não produziu por si mesmo, forças cuja dinâmica inseri seu participantes com mais consciência na vida, porque seu objetivo e celebração é de outra ordem. Ele conseguiu sim, produzir efeitos catalizadores para o poder artístico-econômico, para o turismo e a hotelaria, etc. Empresários ficaram mais ricos, artistas mais amados, idolatrados, aplaudidos, consumidores satisfeitos, o comercio mais rentável, e as pessoas viveram psicologicamente momentos de euforia e prazer, de memorias e curtição incríveis. Por isso tudo não dá para comparar, mas dá para se ter uma ideia do que foi bom e do que se pode criticar em ambos os eventos, porém não é nossa ideia a criticidade, mas tecer elementos para que você possa também formar sua opinião.
A grande pergunta (ou as grandes perguntas) que se pode nesse momento levantar para formar uma boa opinião talvez seja essa: Dos dois eventos, qual melhor representa, alimenta e trabalha as capacidades da essência humana? Qual melhor investe na transformação da realidade? E sob vários aspectos, qual o melhor que atendeu ou atende as expectativas da sociedade de consumo? Por que? O que mudou na vida dos que estavam lá?
Considerando objetivos, caminhos e fins diferentes não dá para comprar, já foi dito, mas dá para verificar se houve impacto social sobre a realidade da cidade, da qualidade da vida para um mundo melhor.
De fato, o rock enquanto um estilo de musica faz parte da cultura moderna, mas também é verdade que, quem nasceu protestando, agora é ferramenta subserviente daquelas forças que antes era seu alvo de protesto. Entretanto, sua essência tem algo de bom ao espirito humano, e como discernir o joio do trigo, será sempre uma constante para os que gostam de tal gênero musical e para aqueles que mesmo não apreciando muito, sabe respeitar e tolerar.