A visita do papa teve uma repercussão muito grande. Independente de suas qualidades pessoais, seus gestos foram de um simbolismo sem igual, setas que norteiam a prática popular. Deles, podemos fazer várias leituras, uma delas, me atrevo a nomear: a pratica da libertação latino-americana. A tradição popular da qual por muitos anos, a instituição silenciou ou foi muito tímida e reservada quanto a ela. Certamente que Francisco bebeu dessa fonte, mas com certeza, sabe valorizar outras tantas que também tem algo a contribuir, sem contudo negar a tradição da qual veio e pela qual olha o mundo.
Francisco parece intuir que a vida, a sociedade está em perigo mediante os rumos que vem tomando. Ele não entra ou não entrou no debate dos grandes temas badalados por ai, mas parece apontar para a vivencia de coisas simples, práticas, pessoais mas de ampla profundidade comunitária. Sua pedagogia é da sensibilidade, das relações interpessoais, do concreto. Seus destinatários contempla a todos, mas aponta duas extremidades como agentes transformadores, os jovens e a terceira idade.
A globalização e temas derivados (internet, tecnologia, redes sociais, pobreza, ecologia, mobilidade humana, urbanismo, mercado, tráfico de pessoas, etc…) tem sido pauta da hora sob perspectivas economicistas, futuristas, gerando a cultura do descartável, da exclusão, e da morte. É preciso falar muito sobre esses temas, debater, agir, apontar caminhos. O papa Francisco não os abordou a todos, de quando passou pelo Brasil, mas vemos e sua pratica nos faz intuir certamente por caminhos cuja sociedade deve ser ouvida e cuja linguagem deve ser acessível, bem como sair mais do teórico e vir para a prática mesmo. Seus gestos, sorrisos e ações inusitadas nos diz muito. Como pessoa de uma magnitude pelo cargo que ocupa, e pelo sistema milenar que representa, faz chegar e se faz compreender pelo povo, mediante sua simplicidade, mas que, re-ensina de novo que mais que falar é preciso também agir e, gestos simples pode desencadear ações muito mais profundas.
Simplicidade. Simplicidade que significa está atento, aberto, acolhedor, dialogador, denunciador, anunciador, mas, sobretudo, a simplicidade de Francisco que não é ingênua e nem alienada, nem simplista e nem utilitária, tem a nos dizer sobretudo, daqueles valores que transforma para além da simples utilidade mecânica, econômica da vida, dos povos e das relações, valores tais como: a fé, a solidariedade, a fraternidade, a bondade, a esperança, a irmandade, a amizade, a gratuidade e o bem.
Tais valores, sem uma visão economicista dos mesmos estavam esquecidos, sendo valores que só temos vistos em momentos de tragédias, e fatos marcantes. Alguém já dizia que era preciso globalizar tais valores e tudo de bom que deles decorem. É preciso fazer coisas simples, sem sermos banais, mecânicos e econômicos.
Francisco de Assis nos ensinou a simplicidade das coisas e das relações. Agora, Francisco, o da Argentina, nos convida a retomar esse caminho, a recriar esse caminho sob novos aspectos e contextos. E o povo o entendeu, o entendeu bem!
Parece uma impressão comum a muitos que, Francisco, vindo de onde veio (da tradição latino-americana), tendo bebido na fonte que bebeu (uma igreja comprometida) se sente livre, aberto e provocador de diálogo, e de abertura. Ele não tem medo do futuro e da renovação tão sonhada. Sua pratica sutil de certo, não é ousada como muitos de nós queremos, tão pouco não é tão tradicionalista e nem muito libertador, mas parece querer acerta na escuta do Espírito, no agir segundo as intuições do Concílio Vaticano II. Aspira reforma, como também deseja que todos nós sejamos reformados, mas uma reforma movida pelo sagrado e santo Evangelho, mais que pelos ventos e ondas do calor do momento e nisso, ele faz toda a diferença… Agora, é esperar pra ver. Ou como dizia Francisco, Francisco de Assis: “Irmãos, vamos recomeçar, vamos recomeçar e servir ao Senhor, pouco ou nada fizemos, então comecemos o nosso labor!”
