Dia Nacional de Luta x Vem pra Rua, Vem!

É sintomático que, há poucos dias atrás tivemos milhares de pessoas nas ruas gritando por ética, mudanças, reivindicando direitos, lutando por diversos temas, fazendo-se ouvir junto a instancias governamentais. Tudo isso deixou os políticos em alerta máximo e com grande medo. Do dia pra noite o grito “Vem pra Rua, Vem!” despertou alguma coisa neles, a inércia das instituições de repente deu uma acordada. Pois é… E quem os mobilizou? Tudo começou pela internet e sem que haja uma cabeça específica, mas todos foram se mobilizando e partilhando esse sentimento contido onde como podemos ver depois, apareceu com coloridos temas e variados temas. A pretexto do aumento das passagens de ônibus, jovens, populares e tantos outros mais, foram construindo um sentimento de que era preciso ir para as ruas protestar. Foram. Não foi todo povo, mas a quantidade e o sentimento que ali estava representou e foi aprovado por cada brasileiro e há quem soubesse tirar proveito disso, naturalmente.

É sintomático, esse episodio da nação brasileira, porque, ainda ontem, dia onze de julho, Dia Nacional de Luta, grupos sindicalistas foram às ruas reivindicar seus direitos. Ao contrário do que se viu na passeata do mês passado, o número dos que na de ontem se encontrava era bem menor, com um número significativamente irrisório. Pelo que lutavam os sindicalistas? Em que suas reinvindicações afetam diretamente o brasileiro e sua política governamental? Porque só esses e somente esses lutavam pela sua classe quando o que reivindicam é algo que nos afetam a todos? Onde estava a multidão que mês passado foi às ruas expor sua indignação e pedir por mais ética e cumprimento dos direitos?

O que se viu foi a velha luta classista (real, concreta, que incide na vida de todos) nesse de ontem, enquanto na do mês passado foi além da indignação, a pretexto da passagem de ônibus, uma avalanche de sentimentos a esmo cujo elemento comum tiveram como foco da mobilização ou meio dela, a internet e seus usuários, os internautas. O povo foi às ruas, é verdade, demonstrou sua indignação pelas coisas que veem ocorrendo no país, é verdade, mas tudo isso, digo da passeata, não refletiu de todo a população por completo, apesar da mesma está em concordância com o que ali fora feito.

Os pobres, os excluídos, não estavam lá, seus atores foram outros advindos de todas as classes, mais e mais ainda os da classe média. Trabalhadores/as, estudantes, pequenos empresários e os passantes da vez. Suas vozes foram contundentes e se fizeram ouvir. Foi uma parcela significativa cujo apoio geral teve sua eficácia.

Entretanto, certamente, que daí se pode tirar lições: o povo da classe média acordou, o governo precisa olhar com mais cuidado essa gente; a internet e seus internautas surge como uma força de comunicação e com um poder quase que incontrolável e ir contra eles de certo haverá muitas dores e profundas dores de cabeça, alegoricamente falando; também é preciso repensar o fator “greve”, recriar, inovar, dar nova conotação ao ato, pois como está já não responder mais, de certo modo, a realidade, perdeu muito de sua força, de sua eficácia…

Há muitos outros fatores a serem analisados, debatidos, reavaliados, e creio que os especialistas de diversas áreas e da hora o farão. Uma coisa, porém, chamo meus leitores à atenção: nesses tempos de crise em que estamos vivendo mudanças de épocas e épocas de mudanças novos instrumentos de reinvindicação e uma nova forma de reação está surgindo no meio de nós, e de certo, isso já faz algum tempo. As classes (para usar o termo de Karl Marx) do passado não são mais as mesmas e irrompe com novo olhar, como nova forma, e novos paradigmas. As novas gerações quando se sentem no máximo de sua acuação, gritam e fazem revolução, mas ao contrário da geração passada, tem novo rosto, nova formula.

Seja como for, começamos esse artigo com ar de surpresa, de certa indignação e ao mesmo tempo de ironia. Com isso, quis chamar sua atenção para o fato de que, se por um lado o povo demostra consciência, por outro permanece na inercia do opio até que sinta “certas” prioridades e não “a” prioridade ser tolhida do seu cotidiano. Aí ele grita! E digo isso porque, temos prioridades de vida ou morte que precisa do povo uma reação urgente, constante, eficaz e exigente. E aponto algumas delas: o planeta está morrendo; o tráfico de pessoas e de drogas a mais de cinquenta anos vem acabando com nossa sociedade e família, e os grandes é que estão por trás disso, mas todos sabem e só o povo dos pobres é quem leva a culpa; político mal caráter está no poder porque insistimos em ter memória curta; etc, etc, etc, etc…. Mas, numa passeata ou na internet “as prioridades” são outras bem mais de agora e de imediatismo. E, bem, viva o país do futebol!

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!