Sexualidade e amor conjugal

A sexualidade e o amor são duas realidades tratadas entre nós como distintas uma da outra. Contudo, mesmo distintas, não são duas realidades separadas, mas uma única e só realidade, pois ambas constituem a energia vital e visceral, psíquica, social e espiritual da vida humana. Não há como separar. São forças que agem inerente a condição humana.

Falar de sexualidade dentro da Igreja é sempre escorregadio. Porque o discurso e a prática são bem diferentes da realidade da vida cotidiana dos fiéis. Todavia, o contrário é bem menos discrepante. Falar do amor e exercitá-lo é de um altruísmo sem igual. Está sempre na “moda”.

Já o mesmo não se pode dizer da sexualidade e do amor na sociedade vigente.  Tais temas sempre aparecem como tabu demais ou como aberto demais incentivando a uma postura lascívia a-moral, consumista, distorcida e vendida, desejada e praticada como um produto. E o amor, de algum modo também está aí implicado.

Enquanto sexualidade e amor são para essa sociedade esvaziados de altruísmo e alteridade, banalizado, estimulado e vendido como prazer e satisfação a pré-texto do direito de ser feliz, é comum e faz parte da cultura moderna estimular os sentidos inconscientemente para a pratica banal dos mesmos, sobretudo pelas diversas formas de propagandas desde algum tipo de bebidas passando pela gastronomia, ou outro objeto de consumo até mesmo a pratica do ato sexual pelo simples prazer em si.

Por outro lado, a sexualidade mesmo sendo quase um “tabu” na Igreja também o é na sociedade (escola, local de trabalho) e mesmo na família dentro de casa. O mesmo não é e não se dá, por exemplo, nas rodas de conversas entre os amigos/as num círculo menor e nas redes sociais. Esse “tabu desaparece” sobretudo com as piadas, olhares, brincadeiras e comentários de duplo significado. Já o amor de certo modo é propalado com uma certa tolerância sob forma de cuidado, de afeto, de preocupação com o outro/a, e o engajamento por uma causa. E tanto na Igreja como na Sociedade conversar sobre ele é mais aberto e estimulado, exceto quando é usado como adjetivo para designar de modo velado a sexualidade e o ato sexual.

Sigmund Freud em seus estudos chamou-nos a atenção para a sexualidade enquanto força vital que está na constituição visceral e seminal da vida humana, sentida, carregada e vivida nos nossos corpos, revestida de sentimentos, desejos, prazer e energia, liberada sobretudo pelo ato sexual e pelos pequenos gestos escamoteados no dia-a-dia; por sua vez, Carl.G.Jung nos dá uma outra visão bem mais aprofunda e aberta pontuando que a sexualidade é uma energia que se pode além do ato sexual canalizar para algo mais profundo, altruísta e de alteridade, indo além da corporeidade sem mesmo excluir o próprio corpo, o próprio ser.

Ouvindo esses dois mestres da psicologia/psicanalise humana podemos intuir e aprender que a sexualidade está no nosso cotidiano. Ela é vivida sobretudo através de um abraço fraterno, um aperto de mãos, um gesto de afago, de carinho, no ato de presentear alguém, e até mesmo na forma como lhe damos com os nossos pertences, cuidamos do nosso habitat, e das pessoas. Em qualquer um desses gestos e atitudes a sexualidade está presente e revela muito sobre nós. Através dela desvelamos nosso próprio eu, se estamos bem ou neuróticos, se somos amados ou não. E na vida conjugal isso é importante, faz uma diferença muito grande na relação, é o que nos adverte são Paulo na sua primeira carta aos Coríntios (1Cor 7 ,3-6s). De outro modo, o amor sublima todas esses gestos e atitudes pelo altruísmo e alteridade, ele é transcendente.

E é “transcendente” porque o amor é bem diferente da sexualidade. Ele é por assim dizer a “alma” da sexualidade. É através do amor que ambos os cônjuges se realizam e são plenos em seu desejo, sem se fecharem em si mesmos, perigo que corre por exemplo numa vivencia da sexualidade só para fins de desejos outros que não sejam o amor. O amor é mais profundo, preenche e dá sentido à vida. A sexualidade por sí  e em si, não.

Por isso que a vida só tem sentido com amor e o amor nunca é sozinho, é sempre acompanhado. E essa é uma verdade bíblica central da fé cristã. O amor não existe para sí mesmo, mas para o outro. É no outro que ele se encontra e se ama a si mesmo. Daí concluir que o amor é relação. E por ser relação desvela uma outra verdade bíblica cristã: o mistério trinitário do Deus de Jesus. Deus é Amor (cf. 1Jo 4,8) e Sua Natureza mais intima é relação amorosa entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Relação que os une, conserva a identidade própria de cada umas pessoas divinas e não as subtrai.

Quando falamos de sexualidade e do amor na vida do casal estamos nos referindo não só ao ato sexual em si, mas também daqueles gestos e atitudes que mostram uma sadia vivência da sexualidade e do amor como uma realidade única a saber: o investimento de tempo na relação; gestos e atitudes de afeto e carinho nas pequenas coisas, porque são as pequenas coisas que fazem a diferença; vivência de momentos propícios de prazer e alteridade pelo lazer e entrega a uma causa; surpreender com um bilhete; um telefone; um recadinho nos smartphones; um afago; um presente; um cinema; um passeio, etc, todas essas formas são expressões de amor conjugal e de uma correta vivencia da sexualidade e do amor. Desse modo o casal estará saciado nos seus desejos e fantasias, liberando no seu corpo aquela energia benfazeja expressada pelo sorriso nas faces, pela delicadeza, pela alegria cantarolante, pelo dinamismo das ideias, pela satisfação, e pela certeza de que ama e é amado/a.

Aí a sexualidade e o amor conjugal assim alimentados não só realiza plenamente a ambos os parceiros, como irradia para seus filhos, amigos, parentes, aquela presença da felicidade, aquela presença de Deus mesmo (já que Ele é amor) mostrando com isso, a santidade. E isso, é com certeza, um golpe na sociedade vigente, porque lhe mostra a face da verdadeira sexualidade e do verdadeiro amor, sem comercialização ou banalização, e se torna de certo modo para a cultura capitalista um testemunho profético da sexualidade e do amor verdadeiro.

De fato, a sexualidade e o amor sentidos, pensados e vistos, assim, se tornam perigosos para a sociedade hodierna e será combatido por ela, naquilo que há de mais frágil no amor: as relações interpessoais; e o instrumento para isso será a lascívia disfarçada de amor nas mais variadas formas. Porque, é isso que vemos todos os dias em cada rua, em cada esquina, em cada outdoor, em cada propaganda dos jornais e das TVs.

Por isso, cabe aos casais cristãos se cercarem daquelas atitudes que reverencia e mostra afeto, amizade, altruísmo, alteridade, zelando pelas relações sadias, não dando ouvidos aos pregões comerciais do amor, mas pelo contrário, denunciam com suas vidas o falso que está presente nesse amor banalizado e que deteriora as relações conjugais e humanas.

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!

1 Comentário

  1. Na minha opinião existe separação entre o amor, o sexo e a paixão, sexo se faz sem amor, paixão é fogo de palha logo acaba, e o amor, bom, o amor é que nos impulsiona a viver a vida intensamente, quando a gente sabe que é amada (o) de verdade a gente consegue superar todas as provações que acontece no nosso dia a dia, a gente tem energia ânimo para enfrentar tudo, o amor sobrevive muito bem sem o sexo, porque o sexo é um tabu? porque as pessoas o transformaram em coisa feia, porque querem viver a sexualidade como animais. Sem o amor não somos nada, já sem o sexo acho que ele não seja vital para a nossa convivência.

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