Felicidade pode ser qualquer coisa e nada. O sentido está em que, essa “coisa” nos cause um bem-estar, passageiro ou duradouro, de modo que essa “coisa” nos possibilite um “estado” emocional, psicológico harmonioso. Isso é felicidade. Dessa felicidade se espera um efeito cascata como consequência, dando lugar a “outras felicidades” de modo que possamos sentir, pensar, agir, dando aparecer que estamos e somos felizes. Dessa forma, as pessoas dizem: Sou feliz.
É o que ouvimos as pessoas dizerem. Porém, é verdade, a felicidade não é bem assim, e não é tão fácil assim. Não é saciamento de um desejo, ou um bem-estar de mente, corpo e espírito. Muito menos ter a posse de bens e objetos que cause aparente sensação de bem-estar e status. A felicidade para ser felicidade depende de um conjunto de coisas todas concordes conspirando a favor da pessoa e que tem respaldo num depois. Saciamento e bem-estar fazem parte da felicidade, é uma característica da felicidade, mas ela não se encerra aí.
A felicidade não é um “bem individualista”, egoísta, só pra mim. Ela não é egocêntrica. Ela é um “bem pessoal” de ordem coletiva. O “pessoal” da felicidade só encontra sentido no ser-para-o-outro, e vice-versa; é um “bem coletivo”. Somos felizes na medida que o outro faz parte e compartilha dessa felicidade. Não somos felizes sozinhos; felicidade de mim para mim, mas somos felizes de mim para nós, e de nós para mim. Ninguém é feliz sozinho, sua felicidade é sempre felicidade com o outro; é sempre partilha com alguém; somos felizes juntos. A felicidade de um erradia a felicidade do outro, e vice-versa.
E a felicidade tanto pessoal quanto coletiva se constrói todo dia a partir de um conjunto de coisas conspirando a favor. Uma coisa só, por si só, pode dar bem estar, satisfação, mas não constitui a felicidade completa, é apenas parte dela.
Então, a que nos leva a felicidade? Qual o seu sentido mais profundo?
A felicidade nos leva a uma nova realidade cujo sentido nos transforma em novas pessoas com novas aspirações sempre em seres buscantes de completude e divinal perfeição. De modo que, encerrar a felicidade em “coisas” é “coisificar” a própria felicidade e reduzi-la a miopia de nosso olhar e sentir, deixando de enxergar e ir mais longe.