“O poder é de todas”

Com essa afirmação, que denota uma conquista, conquista das mulheres e que de modo simbólico traduz os anseios do movimento em marcha desde o século passado, é uma afirmação que mostra como as mulheres estão buscando ser notadas, não por notar, evidentemente, mas ser notadas como protagonistas e como agentes ativas de uma nova sociedade. Elas estão chegando e vieram pra ficar, não para dominar ou mandar, mas para estarem ao lado dos homens, companheiros, amigos e atores de um novo processo gestado com muitas lutas, dores e sonhos de liberdade. Afirmar o poder como sendo de todas, não denota sexismo, e nem muito menos, um sobrepor aos homens, mas, parceria e igualdade de opções, de responsabilidades, de agir como atoras ativas como lhe convém.

Em Caruaru, recentemente houve a primeira conferência das mulheres prescindida de nove pré-conferencias realizadas em todos os recantos da cidade e da zona rural. Aí puderam num processo democrático antes nunca visto na história dessa cidade, expor queixumes, opinar sobre políticas públicas; cobrar ações e responsabilidades; debateram sobre temas emergentes (como por exemplo, os direitos dos homossexuais); sobre os rumos da situação da mulher, ouviram e foram ouvidas quase que num desabafo e gritos por liberdades na Liberdade.

Dessas assembléias surgiram mais de 150 propostas, reivindicações, e tais gritos foram pertinentes para mostrar a “cara” da mulher, sua situação, seus anseios, e sua consciência política. Inusitado e com muitas especulações e bastante pessimismo das vozes contrárias e algumas de situação, foram às expectativas de que da zona rural não sairia nada, uma vez que as mulheres desse contexto são tidas como atrasada e sem contextualização dentro da pós-modernidade. No entanto, quem assim pensou, ficou provavelmente decepcionado/a diante do grande numero de mulheres que afluíram ás pré-conferências na zona rural e que de modo bem articulado e consciente participaram ativamente, mostrando a todos que, também elas, estão inseridas e por dentro das questões atuais e por isso mesmo podem muito bem interagir com os anseios das que estão na cidade. E tudo isso, mesmo não se mostrando obvio, foi uma grande revelação aos observadores, fato que sem dúvidas nenhuma posso afirmar, sem conhecimento de causa, que certamente os meios tecnológicos e modernos (como a TV, a Internet, Celulares de ultima geração) foram elementos que de certo teve alguma influencia nessa nova forma de pensar e agir das mulheres rurais. Mas isso quem poderá dizer com propriedade são os profissionais de sociologia, antropologia e críticos afins.

O fato é que, o movimento das mulheres (e não feministas) em Caruaru deu uma nova configuração à política e à sociedade. Entraram no contexto de modernização e pós-modernização, mesmo não estando na esteira do movimento feminista do século passado, haja vista que, diferentemente desse, sua constituição é provocativa e reativa mediante políticas públicas do governo federal, estadual e do governo municipal atual, que através da secretaria da mulher, fomentou essa ação e reação mediante os avanços em prol de uma nova sociedade.

No geral averiguo que, em Caruaru, acontece algo novo, as mulheres, diferentemente de tempos passados, vieram e mostraram a que veio e que sua voz será e está sendo ouvida. E essa voz se prestará para ajudar outras voz menores (lesbicas, mulheres (pobres) das favelas, de presidiários, etc.) que no meio da grande Voz feminina ainda é marginalizada e não ouvida, porque estão dentro de categorias ainda minoritárias, mesmo estando dentro dessa grande ação feminina e para a mulher.

As ações, campanhas, trabalhos, fóruns, debates e atividades afins foram multiplicadas nesses dois últimos anos, atingiu a muitas mulheres. Não é um número suficientemente representativo de toda a população das mulheres de Caruaru, mas com certeza é um número bastante considerável para que possa se afirmar que pelo menos em Caruaru as coisas nessa área estão mudando. E para surpresas a mais, boas parte dessas cidadãs ativas e sedentas são mulheres adultas, se levarmos em consideração que as mais jovens é que são desbravadoras de quebra de tabus, nesse caso, aqui, percebi que as mais adultas em idade e em experiência de vida é que são a bola da vez. De certa forma isso é algo que inspira certas preocupação, pois normal seria que, as jovens (por se “desobedientes”, modernas, gostam de quebrar tabus, são “pra frente”…) fossem as primeiras a estarem por dentro a todo “vapor” (como se diz). A meu ver, elas, as mais jovens, foram as de menor número. Contudo, porém, elas estavam lá, entraram no processo e se assemelham as mais experimentadas, porque têm algo em comum: a liberdade, pois nesse processo de libertação: “ o poder é de todas”.

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!