Monge

Monge

Por: Sebastião Catequista.

O que é ser um monge?

Geralmente as pessoas veem no “monge” um estereótipo: com hábito, silencioso, orante, piedoso, que vive em mosteiro, fala baixo, exala para os outros, o sagrado. É uma pessoa contemplativa, come pouco, passa horas em vigília de oração, é “espiritual”. Um homem “entre” o céu e a terra. Algo “sobrenatural”. Esse esteriótipo está no imaginário cristão de hoje.

Mas o que é um monge?

Para as pessoas o monge vive num mosteiro sob pesada regra, mortificando seu corpo, se livrando das tentações do demônio e do pecado. Vive orando e intercedendo por nós que vivemos no dia a dia a luta da sobrevivência. Uma imagem bem típica de um tempo, de uma época do cristianismo que ainda não foi superada pelo imaginário cristão moderno.

Mas o que é um monge?

É uma pessoa comum que no seguimento a Jesus descobriu o chamado e no chamado descobriu a si mesmo no seio da comunidade com uma vocação única e cujo sentido, se coloca em incessante busca na inquietação dos dias que se passam. É alguém que se dispôs no silêncio interior de si mesmo, pelas vias da oração, na contemplação da vida, buscar o sentido último de sua existência ouvindo “a voz de Deus” lhe falando em meio ao caos primordial de sua alma, do seu coração angustiado.

Ser monge é, para além dos esteriótipos que demostra ou que os outros veem em si, é um mergulho no vazio da própria existência onde lá depende exclusivamente de DEUS.

Ser monge não é ser “religioso”, piedoso, rezador, habitante do “espaço sagrado do templo” ainda que assim viva e ai habite, mas, ser monge é: viver e usufruir da vida real tal qual ela se apresenta, com suas dores, contradições, trabalho, saúde, sexo, paixão, angustias, sonhos, frustrações, e esperanças, como qualquer outra pessoa comum.

Ser monge não é ser diferente e em nada difere dos outros seus semelhantes, mas carrega dentro de si algo diferente, uma “busca interior” um “sentido não explicado” uma “inquietação incomodante”, um “vazio desesperador” que o coloca em um “estado permanente” de busca desassossegada. É algo que não consegue explicar. É uma vocação que difere das demais enquanto busca e entrega total ao desconhecido, e nesse sentido caminha às cegas e às palpadelas em busca…

Como monge, as pessoas as quais serve e a comunidade em que vive, é sua “regra de vida”, é seu “mosteiro”. O monge à semelhança de Jesus está sempre à “escuta” atenta: no serviço aos pobres, no estudo da Palavra, na oração pessoal mais intensa, na oração litúrgica, no serviço pastoral, e na oração interior do coração. Essas categorias são as caricaturas de sua ascese. A vivência externa de sua busca mais profunda e interior.

Ser monge é ser um “ser solitário” porém nunca sozinho. Está sempre acercado de gente e ao mesmo tempo dentro de si é solitário a onde a solidão se preenche unicamente e exclusivamente com Deus. O monge assim, sente a necessidade de estar sozinho e ao mesmo tempo de estar com pessoas em torno de si. Tem medo da solidão e de suas artimanhas e no entanto, a procura num contínuo contraste de vais e vens. É alguém que se sente fraco, obscuro, medroso, mas ao mesmo tempo põe sua esperança e sua segurança em Deus, e se fortalece no encontro e no abraço dos irmãos e irmãs que o consola, o motiva e o incentiva na jornada. Isso é algo paradoxal que nem ele mesmo entende e nem consegue explicar. É algo puramente divinal.

Ser monge é uma vocação, um chamado… é mais que uma vontade própria. É algo que acontece no íntimo da pessoa de modo singular, de forma pessoal e única, porém, nunca é algo isolado. Ser monge é uma vocação eclesial e comunitária. O monge não é monge para si, mas para a Igreja. Porque ele está inserido dentro de uma comunidade eclesial e ao mesmo tempo está a serviço dela de algum modo. A vocação monástica é sempre uma vocação eclesial. Sua busca interior de certo modo reflete a busca da comunidade e de todos os seres que estão em busca de seu próprio sentido existencial.

Ser monge é uma busca incessante cujo sentido para nós cristãos, se encontra em Deus, e sua realização no seio da comunidade eclesial. É um itinerário espiritual cuja aventura se dá no amor e para o amor. É na busca que acontece o mais profundo da existência e seu sentido último: a VIDA. A vida em DEUS.

Enfim, volta a pergunta: o que é ser monge…

De algum lugar qualquer, 10 de outubro de 2021.

Sebastião Catequista.

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!

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