Erros e Pecados

Cometemos muitos erros, é verdade. Mas, os erros que na vida cometemos os cometemos porque queríamos acertar, arriscando um caminho, uma opção, uma hipótese, construindo uma solução porque tínhamos a impressão de que acertaríamos; ou erramos por não saber, não conhecer e foi total inocência nossa; ou erramos porque fomos displicentes ou desejamos que fosse assim, por pura impulsividade sem medir as consequências de nossos atos. Erramos e erramos feio!

Com o nosso erro aprendemos que todo ele tem consequências. Umas leves, outras graves e outras gravíssimas e outras que não tem volta, que não dá para consertar, e pagamos e saboreamos amargamente o preço por cometermos tal erro. O erro cometido pode nos fazer crescer, nos tornar maduros e experientes ou, pode nos lançar numa noite escura da alma. Uma noite que não tem ocaso e nem fim cujo fantasma nos persegue pelo resto da vida onde temos a duras penas aprender a viver com eles, pois não fomos destruídos. É um longo levantar das cinzas que deixa marcas que por vezes dói por vezes não, restando a lembrança de uma experiência que teima em vir à tona nos alertar para os riscos de se viver. Erros podem ser escola, prisão, ou portas para uma nova possibilidade. Cada uma, cada um de nós sabe onde os sapatos apertam.

Deus não nos olha a partir do erro e nem nos condena por tal, mas a vida e a lei natural é implacável nas cobranças e não tem negociação. Conheço casos e casos. E não se trata de destino ou do famoso “tá escrito” ou “é carma” mas se trata de liberdade, de decisão tomada, pensada ou não.

Com o erro vem a sensação de culpa, de frustração, de pequenez, de fragilidade e de cinismo perante suas consequências que nos acusa e não nos deixa em paz. E o cinismo é uma forma de proteção contra os que nos acusam. Muitas vezes um ‘cano de escapes” perante as consequências de nossas ações. Mas, no geral, de algum modo e sob duras penas, erros são consertáveis, perdoável.

E o que dizer do pecado? Ele não é necessariamente um erro; pode se cometer um erro sem esse ser necessariamente um pecado; e pode se cometer um pecado sem que esse seja necessariamente um erro; há pecado que nasce de um erro ou a ele está ligado. Mas isso não implica que todo erro é pecado ou que todo pecado é um erro. Ambos podem ser distintos, e terem consequências diferentes em graus diversos um do outro. Depende de caso a caso. Muitas vezes e quase sempre, pecado nasce, cresce e aparece de uma outra ordem: da quebra da aliança com Deus. E isso para quem fez aliança com Deus. Eis um diferencial importante.

Pecado é uma quebra da aliança com Deus. Logo, o pecado surge de uma relação de fé cujo sentido e significado só tem sentido para os que creem e vivem em aliança com Deus. Na linha tênue da existência de todas as coisas e seres, erro e pecado se encontra causando sérias consequências para todos e ninguém escapa de suas terríveis consequências, acreditando em Deus ou não, tendo feito aliança com Ele ou não. O fato é que, o pecado, é uma responsabilidade “a mais” de quem aposta na vida com Deus. Certamente, Deus “não vai cobrar” dos outros pelos pecados cometidos se esse não fez aliança com Ele; mas “cobrará” pelos erros cometidos que não deixou a vida fluir livremente por causa das ações praticadas conscientemente. Falando em certo sentido, entende? Porque Deus não nos cobra e nem sai por aí esfregando o dedo em nossa cara nos acusando pelo que deixamos de fazer; mas nós mesmo perante sua grandiosidade e Pessoa, o fazemos, porque, perante Ele não tem como deixarmos de sermos juízes de nós mesmos… mas, isso é outra história, artigo para uma outra conversa. O fato é que, o pecado existe, é uma realidade, mas uma realidade que advém dos que fizeram uma aliança com Deus, e por isso mesmo, pecam quando quebram essa aliança.

E o que é o pecado? Poderíamos recitar textos e mais textos dos catecismos, apresentar conceitos teológicos, bíblicos, doutrinais, morais, religiosos, quase infindáveis para nominar, descrever e conceituar o pecado, mas ao invés disso, prefiro ficar com o trivial: quebra da aliança com Deus. Ou seja, aqueles que fizeram aliança com Deus pela fé, esses cometem pecado quando não vivem essa mesma aliança. E poderíamos perguntar: quando fizemos essa aliança com Deus? Quando no instante primeiro invocamos o Seu Nome sobre nossa vida e nos recomendamos à sua proteção e entendemos que Ele é o “Ato Primeiro e Único” fundante de toda Existência. Seja lá como o chamamos, o nominamos e o conceituamos. E aí, para os crentes, erros e pecados passam a ser duas realidades distintas que ora se encontram, ora se separam; mas que a seu modo cada um tem “uma carga” de responsabilidades “sobre bons e maus” crentes e não crentes.

Pecados podem ser perdoados, corrigidos e compensados, sim, podem; é apostando nisso que se baseia a fé cristã da redenção e salvação trazida por Cristo quando da sua paixão e morte na cruz. E tal ato de salvação contempla o mundo todo em seu passado, presente e futuro de modo universal sem exclusão de nada e de ninguém. Até mesmo as outras religiões com seus fiéis em Cristo estão salvas, mesmo que não pensem assim. Pelo menos é o que faz supor a fé cristã.

O pecado apesar de ser de ordem pessoal, tem respaldo e consequências na ordem social, moral, espiritual e temporal. Por isso todo pecado pessoal é de certo modo também social e coletivo. Ele interfere nessa ordem. Por isso que o pecado é algo mais sério que apenas um simples erro. E ao contrário do erro, ele não é uma escola, prisão ou janela como dissemos acima, mas algo grave que interfere na existência total de modo que só o perdão divino começando pelo perdão humano, pode desfaze-lo por completo assegurando vida e salvação. E para que isso possa acontecer, bem ensinou Jesus: “perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. O perdão divino começa ou passa de algum modo pela nossa iniciativa de perdoar, e vai mais longe: o perdão divino é curador, re-estabelecedor de ordem e salvação, mesmo que em vida na existência terrestre não vejamos “o milagre” por causa das leis universal estabelecidas, mas sim, foi dado o primeiro passo e o processo se iniciou, culminando no tempo escatológico.

Erros tem consertos, pecados tem perdão e ambos podem ser geradores de novas realidades onde a vida pode ser mais, bem mais do que antes, inclusive, ser refeita no que foi atingida, porém, numa outra realidade de ordem escatológica, cujo fé crer e aceita que existirá e acontecerá.

Então, podemos parar por aqui, com algumas linhas para posterior reflexão:

  • Erro e pecado fazem parte da vida dos crentes e não crentes e que tem consequências para a vida pessoal e coletiva; bem como, para o destino de todos os seres desse pequeno grande universo ainda não desvendável;
  • Que erro e pecado são realidades distintas que ora estão juntos, ora estão separados e que ambos têm consequências reparáveis ou não, nesta vida, dependendo do seu grau de gravidade;
  • Que pecado apesar de interferir na vida pessoal e coletiva é um ato mais de quem crer e fez aliança com Deus, sendo algo “a mais” na vida dos crentes, mas do que na vida de um não crente que não se sente comprometido com a fé (e por isso mesmo, não espere de um não crente, por exemplo, que ele viva os 10 mandamentos; ou que tenha devoção a Nossa Senhora… seria pedir demais, para quem não aderiu a fé.);
  • Que erro e pecado podemos aprender com ele, sendo melhor do que fomos antes;
  • Que Deus não nos culpa e não nos condena, mas nós mesmos perante Sua Presença somos juízes de nós mesmos;
  • Que erro e pecado podem no tempo escatológico ser uma realidade desfeita – realidade essa, aliás, que já começou aqui com a presença de Jesus e sua morte redentora, para os que creem nessa possibilidade.

Enfim, erro e pecado são duas realidades que demostram o bem e o mal, a graça e a vida com sua fragilidade e grandeza, com sua pequenez e perenidade no coração da Existência.

O que fica de lição? Não sei, cada um há de tirar suas conclusões. A vida, os livros, as mil e umas palestras assistidas resultaram nessas poucas linhas (que quase não termina mais…) que ainda está maturando, amadurecendo. É um testemunho? Talvez! É informação ou formação? Você quem decide. Só sei que o texto nasceu de uma manhã escutando dois casos de vida, e na calada da noite, as palavras vieram depois de muito confrontar, e questionar a própria fé. Bom proveito!

Sobre Sebastião Catequista 90 Artigos
Olá! Sou Sebastião Catequista. Sou educador popular e narrador dos conteúdos bíblicos. Habito a Igreja Católica e me identifico como tal, meu lugar de fala é a partir das Comunidades Eclesiais, Pastorais e Movimentos Populares. Faço parte do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) da Região Nordeste, Estado de Pernambuco. Atuo como Agente de Pastoral em diversas atividades eclesial. Blogueiro, assessor, palestrante, criador de conteúdos, sou católico de fronteiras: isto é, sou Ecumênico, de profundo Diálogo inter-religioso com outras Tradições Religiosas cristãs e não cristãs. Adoro ler, curtir a natureza, passeios, fotos, músicas e bons filmes. Sinto-me encantado com a Vida e agradecido. Sou um contemplativo nato. Adoro o mundo da Teologia e da Ciência da Religião. Aqui é o lugar onde extravaso as palavras e dou evasão aos pensamentos. Ter sua visita e apreciação de meus textos é uma alegria, um partilhar da vida nessa cativante jornada do dia a dia que é está vivo e caminhar rumo ao Mistério fascinante da Existência. Grato! Seja bem-vindo/a!